sábado, 21 de agosto de 2010

Alma é Imortal?

          A doutrina da imortalidade da alma carece de um cuidado especial. Nesses tempos de sincretismo devemos diferenciá-la do pensamento platônico ou do espiritismo e, estruturá-la tão somente na Bíblia (Hb 4;12), mesmo que com isso venhamos a negar algumas “verdades” comuns. Nossa esperança (1Co 15;16) não se baseia na imortalidade ou continuidade da alma ou de qualquer espectro parcial da personalidade, e sim é na total e perfeita reconstrução do ser humano tal qual criado inicialmente por Deus. Esse fato que ocorrerá num tempo marcado e determinado de conhecimento exclusivo do nosso Pai (Mt 24;36 e At 1;8), tempo este não somente aguardado pelos crentes, mas toda a criação ansiosamente geme esperando o dia do livramento (Rm 8;22). Tal promessa é certa, pois Deus prometeu em Cristo Jesus (Jo 6;40).

          Para tratarmos de imortalidade, entretanto, primeiro devemos entender o conceito de Morte, mas ao fala morte temos que abordar a Vida. A Morte é o contrario da Vida, se viver é ser, e morrer é deixar de viver, logo, morrer é deixar de ser, de existir. Segundo Berkhof - A idéia escriturística da morte inclui a morte física, a morte espiritual e a morte eterna: morte física - “parar de respirar”; morte espiritual - a separação entre Deus e o ser humano (conseqüência do Pecado), e; morte eterna - a punição final do pecador, o inferno. Assim imortalidade é a capacidade de não morrer, por tanto temos obrigatoriamente três tipos de imortalidade: imortalidade física (ou natural) - não morrer nunca, continuar vivendo indefinidamente; imortalidade espiritual: não se separar de Deus, ou não ter pecado; Imortalidade eterna: não ir para o inferno, não ser punido eternamente.

          Também temos que entender o que é alma. A Bíblia apresenta a idéia de que o ser humano é mais que o corpo (Gn 2; 7, Ec 12; 7). Existem duas divisões no ser humano a parte física (corpo) e a parte imaterial (alma). É importante frisar que ambas são inseparáveis e que uma depende da outra. Morrer fisicamente (natural) está associado exatamente a separação ou perda de um desses elementos (Tg 2;26, Jo 19;30). A morte é um rompimento das relações naturais da vida. 

          As expressões bíblicas afirmam a morte como uma coisa introduzida no mundo da humanidade pelo Pecado; uma punição positivada ao Pecado (Gn 2;17 e 3;19, Rm 5;12 a 17, 6;23, 1 Co 15;21, Tg 1;15). A morte não é algo natural na vida do homem, como se fosse um caminho inexorável da existência, nem com mera falha de um ideal social, moral ou ético. A Morte é descrita como algo alheio e hostil à humanidade, e mais, é uma expressão da ira divina (Sl 90;7 a 11), um julgamento (Rm 1;32), uma condenação, (Rm 5;16) e uma maldição (Gl 3;13).

          É importante observar que Adão é um ser vivo, que passa a morrer por causa do pecado (Gn 3;19), não há nenhum motivo, senão uma hiper valorização das ciências naturais, para que não afirmemos que o ser humano foi criado imortal. A morte só entra no cenário humano a partir da queda. Daí se desenvolve a idéia nos meios cristãos de que algo (latente) no homem caído ainda possua a imortalidade, entretanto, a Bíblia não diz diretamente que a alma, essa parte imaterial do homem caído é imortal, embora seja demonstrável tal conceito já existia no V. T. e no N.T.

          A primeira vista todas as civilizações crêem na imortalidade (e eu não vou perder tempo descrevendo essas idéias), mas a Bíblia apresenta um conceito bem diferenciado: imortalidade absoluta: Deus é o ser por essência imortal ou eterno, não tem inicio e nem fim (ITm 6;15); imortalidade humana: antes da queda, Adão não era marcado pela morte, mas obviamente corria o risco (Rm 5;12); imortalidade escatológica ou vida eterna: a impossibilidade do ser humano ser tocado pela morte; extirpar a possibilidade de morrer da existência humana; Resultado da participação na arvore da vida (Gn 3;22); vitória definitiva de Jesus (1Co 15;26 e Ap 20;14 e 21;4).

          Fomos criados para viver para sempre, mas o pecado nos trouxe a morte, Cristo venceu a morte morrendo em nosso favor, mas ainda nem tudo o que deve acontecer, já aconteceu (já... ainda não), um processo que ainda acontecerá é o julgamento final onde o estado final de Vida ou Morte será definido, os que estiverem escrito no livro da vida (Ap 21;27) herdarão a vida eterna (1Co 15; 54 a 57), para os demais a destruição no lago de fogo (AP 20; 14 e 15). Para concretizar esse Juízo o réu deve ser mantido, afinal não será a revelia e nem de um semi-ser inconsciente, sabemos que antes desse julgamento todos sem exceção se apresentarão diante de Deus (Ap 20; 12 e 13). O corpo se decompõe e a alma (ser humano incompleto, mas distinto) volta para Deus, e nisso é preservada (Ec 12;7), o ímpio em lugar incerto e tormentoso, reservado para o juízo, mas o crente em boa dádiva (Lc 16,19, CFW, XXXII) esperando a remissão completa (Ap 6;11).

Assim sabemos:
          1 - A alma em si mesmo não possui nenhuma característica eterna, pois eterno é o nosso Deus. Qualquer qualidade, seja mental, física ou espiritual, descende de Deus (Tg 1;16 a 18). Crer em imortalidade da alma como uma essência da própria alma é uma falácia que, nós crentes, devemos rejeitar.

          2 - Se a alma se mantém ativa exatamente como antes da dissociação do corpo ou se ela está consciente e preservada de outra forma é um mistério que não nos foi revelado por Deus em sua palavra, sabemos, entretanto, que sobre todas as coisas Deus é soberano e nada lhe escapa ao controle, não podendo ele ser pego de surpresa por nenhum inconveniente.

          3 - “A imortalidade da alma” é apenas um estado temporário (estado intermediário), pois no tempo designado por Deus, serão ressuscitados (Its 4;14 e 15) e se juntarão aos vivos que também serão transformados para as bodas do cordeiro, esses são o aqueles que tem seu nome escrito no livro da vida e entrarão no descanso do Senhor (Mt 25; 31 a 46).

          4 - Todos grandes e pequenos compareceram diante de Deus. Nesse dia, o Dia do Senhor, e os que não forem achado inscrito no Livro da Vida serão entregues a morte eterna, juntamente com o diabo, o sedutor deles, lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde , também, se encontrão não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.

12 comentários:

  1. Esli,

    O texto é bom e complexo. A alma é imortal? É imortal no sentido de resistir à morte física: a carne extingue, a alma permanece.

    Eu penso que a análise feita por você é meio complicada... Compreendo que a "alma" não existe por sí só, pois assim como tudo, a causação é Deus. Logo, a alma existe em razão de Deus; não tem essência própria. A alma morre? Mediante um conceito sobrenatural, pode ser assim entendido, pois ela será separada de Deus, o que significa "morte eterna", ou a "segunda morte". Logo, nesse ponto a sua análise é correta.

    Porém, a mesma pergunta permanece, agora sob outro aspecto: a alma morre? Se considerarmos a morte como cessação total, ou como extinção , a resposta é não. Nesse aspecto a alma morre se aceitarmos o aniquilacionismo (e eu não acredito). Ainda assim, somente a alma "dos ímpios" morreria, ou seria aniquilada.

    Assim, concluindo, eu creio que a alma (espírito) é eterna, porque jamais será aniquilada, ainda que possa ser considerada espiritualmente "morta" , pela separação do Criador.

    Abraços meu camarada!

    Ricardo.

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  2. Esta explicação que o pr Esli colocou sobre a alma, geralmente incomoda mesmo. Imortalidade da alma é algo que colocamos quase como ''credo.
    O texto não rege-se pelo que é habitual mesmo. Mas, não fica muito longe do que Hoekema afirma em 'Criados A Imegem de Deus'.

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  3. Esli,

    uma pergunta: você é tricotomista ou dicotomista? E, por que?

    Quanto à alma, se ela for mortal, o que dizer da passagem em que Cristo diz que Deus não é Deus dos mortos? Como explicar o fato de Moisés e Elias estarem juntos ao Senhor na transfiguração?

    E o desejo ardente de Paulo morrer para se encontrar com o Senhor?

    E no Calvário, quando Cristo diz ao ladrão: hoje mesmo estará comigo no paraíso, queria dizer o que?

    Forte abraço, meu irmão!

    Cristo o abençoe!

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  4. Esli,

    realmente o tema é complicado. Eu aceitava que a alma é imortal, mas não tinha levado tão a sério as consequencias dessa crença. Afinal, se ela é imortal, como ela morreu (foi separada de Deus) no Jardim? E se é imortal, então como ela será lançada na Segunda Morte?

    Agora estou entendendo melhor isso.
    Eu acho certo, então, dizer que ela é eterna, mas não imortal. Me corrija se eu estiver errado.

    Um abraço do enrolado.

    NETO

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  5. Segundo Hoekema, Bavinck disse que o estado intermediario está descrito na Bíblia numa quatia tão pequena, que pode ser chamado de sussurro! Mas esse é suficiente para construirmos uma doutrina sobre isso. Porém, entendo realmente que não é muito sábio entrar em delongas nesse assunto. Afinal, é após a ressurreição que receberemos a imortalidade.
    Até lá, é bom dizer que a alma ou espírito, algo imaterial, existirá até o ultimo dia. (dentro desse dia teremos o que está predito,arrebatamento, milenio, julgamento , etc)

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  6. Luciano,

    Eu acabei de ler "Criados à imagem de Deus" do Hoekema, e gostei muitíssimo da obra. Mas de fato há um "estado intermediário entre a morte e a ressurreição" que não pode ser bem compreendido. Uma coisa é certa, nesse estado seremos somente alma, sem o corpo. Logo, a alma não morre, pelo menos no sentido lato da palavra, considerando a morte como o fim, a cessação.

    Abraço!

    Ricardo.

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  7. Ei enrolado!
    Cade minha resposta? (hehehe)

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  8. Amigos,

    principalmente ao Ricardo (mas acho que algumas coisas serão aqui esclarecidas)

    Nem sei por onde começar... as colocações e comentários de vcs ampliaram a simplicidade que eu propunha para o texto. Mas creio que as situações giram em torno dos mesmos pontos assim responderei em uníssono.

    Admito prontamente que tais situações foram causadas pela minha pergunta retórica que intitula o texto (Alma é imortal?). Se a Morte é a Pena imposta por Deus ao Homem por causa do Pecado será de tratada de forma definitiva no
    Juízo Final e a lacuna temporal entre essa penalidade e esse tratamento definitivo é apresentada pelo Estado Intermediário então tal tema (imortalidade) fica normalmente – mas não necessariamente – ligado a Escatologia (parte da teologia que trata das coisas do fim).
    Assim o primeiro esclarecimento que devo fazer é: o texto não aborda as questões escatológicas, prova isso os marcadores do post “morte e misticismo”, apontando o foco temático. Talvez, melhor seria intitular o Post por “Considerações Sobre a Morte” ou “Nossa Esperança”.

    Não nego, a rigor, a “imortalidade da alma”, mas não gosto da utilização do termo por ele estar viciado pelo platonismo místico (espiritismo) e suas idéias de reencarnação, ou pelo platonismo materialista com a proposta de continuidade do ‘eu’ nas obras e nos filhos.

    (Continua...)

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  9. Já no primeiro parágrafo eu desvelo que penso tudo isso, abro o texto com “A doutrina da imortalidade da alma carece de um cuidado especial(...)” e fecho esse parágrafo de introdução afirmando que “(...) Tal promessa é certa, pois Deus prometeu em Cristo Jesus (Jo 6;40).” Daí esclareço os três termos utilizados no texto, a saber, Morte, Vida e Alma, afirmando que o primeiro termo é o contrário do segundo e que seus efeitos se deram primeiro na Alma (terceiro termo) e depois no Corpo.

    E continuo dizemos que imortalidade (não morrer) é igual a Vida. Assim temos que Adão foi criado imortal (Vivo)! A Morte entra na História através do Pecado, por causa disso homem deixa de ser Vivo (imortal) e jaz em seus pecados (morte espiritual), até que se complete seus dias e volte ao pó (morte física). Cristo trás o Homem de novo a Vida, processo que embora ‘já é’ verdade, ‘ainda não’ é completo. Ou seja, os que vivem com Cristo já são vivificados, e aguardam ardentemente o dia da glorificação, juntamente com toda a Criação, que pelo Pecado está também encarcerada.

    Tendo em vista essa idéia, no texto eu falo de ‘preservação’ e não de ‘imortalidade da alma’, pois na esfera de existência da alma (mundo espiritual), o homem sem Cristo está morto (morte espiritual = alma morta) mesmo vivo (respirando) na esfera material e como já está condenado, no devido tempo será entregue a Morte Eterna (lago de fogo ou segunda morte).

    Em tais idéias fica patente a minha posição dicotômica (respondendo ao Jorge), mas note que por ‘dicotomia’ entendemos e afirmamos que o homem é constituído de duas partes e não de duas coisas. Assim, não é correto afirmar que alma sem corpo é Homem, e do mesmo modo, não é correto afirmar que corpo sem alma é Homem. O âmago das minhas afirmações são: o Homem é uno, holístico, qualquer separação dessas duas partes implica em morte.

    Por que penso assim? Porque encontro essa divisão na Bíblia, o homem é um ser bidimensional (espírito e matéria), temos estão alma e corpo juntos como constituição da vida, nem corpo preservado é Vida, nem alma preservada é Vida. Daí vc pode entender por que Cristo enfático quanto a ressurreição no último dia.

    Em Cristo
    Esli Soares

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  10. Jorge,

    Quanto as suas outras questões devolvo-as em forma de pergunta.

    Abraão, Isaque e Jacó são citados por Jesus estando em que condição? Preservados para o Grande Dia ou no mundo dos mortos? Quanto a Moises e Elias, era o espírito deles que apareceram para Jesus na transfiguração ou o que houve ali foi um “salto temporal”? Moises e Elias estavam desencarnados no estado intermediário, ou vivos num momento especial e que o tempo foi curvado pelo poder de Deus? Quanto a Paulo: ele julga ser melhor do que estar vivo aqui o estado intermediário ou glorificação da vida eterna? E para o Ladrão, no Senhor afirmou que ele estaria cuidado por Cristo no Estado Intermediário ou aproveitando das benesses eternas do Reino de Cristo?

    Ou seja suas questões em nada interferem na validade do texto, uma fez que o texto afirma que vive quem tem Alma e Corpo, que corpo se desfaz em pó e alma é preservada. Veja o item 3.

    Neto,

    Alma não é Eterna, pois eterno é algo que não tem início e nem fim. Alma é infinita, ou sem prazo de validade diferentemente de nossos corpos marcados pelo pecado caminha inexoravelmente para um fim (morte física). A alma é ‘mortal’ em sua própria esfera, assim o Pecado fez separação entre Deus e os homens, o homem morreu espiritualmente, notadamente o corpo padeceu e more também. No Juízo final a alma e o corpo, homens grandes e pequenos serão julgados e enviados para a segunda morte, Morte Eterna, separação completa e eterna de Deus.

    Luciano,

    Que prazer vê-lo comentar aqui volte sempre! Obrigado pelas considerações. De fato muito do que disse é de Hoekema. Concordo em gênero, número e grau, não devemos falar de mais aonde a Bíblia fala pouco. Afinal, é após a ressurreição que receberemos a imortalidade. Até lá, é bom dizer que a alma ou espírito, algo imaterial, existirá (será preservada) até o Último Dia. Dentro desse dia (O Dia Senhor) teremos o que está predito, arrebatamento e o julgamento. Quanto ao milênio, já o vivemos, mais isso é assunto para outro post.

    No mais, na graça de Deus, subscrevo.
    Esli Soares

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  11. Ricardo, os livros de Hoekema tem sido uma benção para todos.(tenho minhas reservas apenas na posição amilenista, o que na maioria dos casos são meus irmãos presbiterianos).

    Esli, depois vou colocar esse seu post no meu blog. Posso? Afinal imortalidade é assunto que algumas seitas tem geralmente 'truncado'.
    mcapologetico.blospot.com

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  12. Luciano,

    fique a vontade... eu apreveito e visito seu blog.

    Na Paz.

    Esli Soares

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