segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A VERDADEIRA CELEBRAÇÃO DO NATAL

Artigo baseado no esboço do sermão ministrado no culto solene em 24 de dezembro na 4 Igreja Presbiteriana de Boa Vista-RR, a partir da análise dos termos presentes em Lucas 2.11.


Então é Natal, na verdade, véspera de Natal, e muita gente já está reunida festejando. Tantas outras estão se arrumando para as celebrações em família, e, tristemente, talvez por isso, muitos lugares estão vazios nas igrejas, agora. Pois bem, de alguma forma, ano após ano, nestes dias próximos ao 25 de dezembro, a história do Nascimento de Cristo é recontada. Mais uma vez, e em meio a essas celebrações, por vezes completamente dispares do verdadeiro acontecimento, o verdadeiro Natal ainda se afirma para todos: Deus veio ao mundo! É sobre isso que eu quero refletir, especialmente observando o verso 11 do capítulo 2 do Evangelho de Nosso Senhor, conforme contado por São Lucas Evangelista.

INTRODUÇÃO

O início da tradição natalina em 25 de dezembro é envolto em mistério, mas suas raízes remontam ao século III. Hipólito de Roma, teólogo e líder da Igreja, mencionou em seus escritos que os cristãos egípcios já marcavam o nascimento de Jesus nesta data. O calendário litúrgico de 354 d.C. registra a festa do Natal em 25 de dezembro, porém sem fornecer muitos detalhes sobre como a celebração ocorria na época.

E pouco importa a discussão sobre a influência de Constantino na definição ou oficialização da data. A verdade é que a celebração de dia, ou do que ela representa, não possui respaldo nas Escrituras. Não há menção e nem sequer uma pequena sugestão sobre alguma comemoração de aniversário do SENHOR ou mesmo um culto especial sobre a Encarnação.

Mas é bíblico dizer, a tempo e fora de tempo, que Ele nasceu! É disso que esse verso fala, e, por isso, eu quero fazer seis reflexões a partir dele, e, no fim, apresentar três típicas aplicações sintetizando o que devemos entender, sentir e fazer diante da verdade revelada para nós hoje. Afinal, naquela noite especial Deus decidiu se revelar, e aos mais humildes, aos pastores nos campos, Ele enviou seus anjos para informar tão grande salvação: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor".


A GRANDE HISTÓRIA


1. O anjo disse "hoje" - o verso especifica um tempo: ao afirmar um dia, percebemos que a história da Redenção que começa na eternidade, pois Deus, o Redentor, é eterno, se desenvolve no tempo. O versículo 25 do livro de Daniel, capítulo 9, aponta: "Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém até o Ungido, ao Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas." Essas "sete semanas" e "sessenta e duas semanas" totalizam 69 semanas, onde cada semana representa sete anos, somando um total de 483 anos, indicando o tempo do Messias. A referência à "ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém" é frequentemente vinculada ao decreto emitido por Artaxerxes I, rei persa. Este decreto permitiu que Esdras retornasse a Jerusalém para reconstruir a cidade e restaurar a Lei. Historicamente, esse decreto é datado por volta de 458 a.C. ou 457 a.C. O cumprimento dessa profecia, marcando a contagem de anos desde o decreto de Artaxerxes até o início do ministério de Jesus, estabelece a conexão temporal e solidifica a compreensão de que Jesus é o Messias esperado. Assim, a profecia de Daniel 9 não apenas fornece uma contagem precisa, sobre os tempos, mas também serve como um elo entre o Antigo e o Novo Testamento, evidenciando o cumprimento das promessas messiânicas das Escrituras, na pessoa de Jesus Cristo.

2. O anjo disse "vos nasceu" – o verso especifica uma ação: ao descrever o nascimento de Jesus, anuncia-se algo muito além de um simples evento histórico. Essa ação que se desenrola no tempo é, de fato, muito especial. Certamente, naqueles dias e naquela mesma cidade, muitas outras crianças nasceram, mas esse nascimento era o único digno de nota pelo mensageiro celestial. Paulo afirma que no tempo devido, Deus estava cumprindo suas promessas feitas a Daniel, e antes dele a Davi, Abraão e a Eva. Em Gálatas 4.4, o apóstolo escreve: "Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei." Ou seja, o cumprimento das profecias e propósitos de Deus. Essa ação específica é a literal afirmação da doutrina da encarnação. Jesus, o Filho de Deus, assumiu a natureza humana, mantendo simultaneamente sua natureza divina. Essa união única é fundamental para a compreensão da obra redentora de Cristo. A encarnação de Cristo é essencial para a sua obra salvífica, seu mais importante trabalho. Ele precisava ser verdadeiramente homem para representar a humanidade. O Catecismo Maior de Westminster, em sua resposta à pergunta 39, destaca a necessidade do Mediador ser homem. Isso possibilita que "Ele eleve nossa natureza, obedeça à lei, sofra, interceda por nós e compreenda nossas enfermidades". Assim, essa realidade permite que recebamos a adoção de filhos e tenhamos confiança ao nos aproximarmos do Trono da Graça.

3- O anjo disse “na cidade de Davi” – O verso especifica um lugar: Ao mencionar que Jesus nasceu na cidade de Davi, a narrativa transcende a mera geografia histórica. O evangelista Lucas indiretamente traça um ligação entre a promessa do Antigo Testamento e seu cumprimento no Novo Testamento. Em seu relato sobre o recenseamento estabelecido por Quirino, nos primeiros versos deste capítulo, ele impõe que fielmente Deus cumpriu Sua promessa de que o Messias viria da linhagem de Davi. José, descendente de Davi, por decreto romano deveria ir a Belém, a cidade de seu ancestral e leva Maria, sua esposa gravida, que espera Jesus, seu primeiro filho. A escolha específica de Belém, conforme previsto em Miqueias 5.2, não apenas fornece uma localização física, um cenário humilde para sua entrada no mundo, mas também confirma o cumprimento das profecias antigas acerca do nascimento do Salvador. A menção da manjedoura como sinal para os pastores não apenas oportuniza verificabilidade ao relato, mas também destaca a humildade e a simplicidade do nascimento de Cristo, de acordo com as profecias que indicavam que Ele viria como um servo sofredor. O local de nascimento não é apenas uma circunstância histórica (leia os primeiros versos do capítulo, Lucas apresenta informações adicionais precisas sobre tudo isso), mas uma declaração profunda da precisão de Deus em cumprir Seu plano redentor na pessoa do Salvador anunciado. Assim, a cidade de Davi, Belém, torna-se mais do que apenas um ponto no mapa; ela é um elo teológico entre o passado e o presente, unindo as promessas antigas com sua realização na pessoa de Jesus.

4- O anjo disse “o Salvador” – O verso especifica uma razão: Ao proclamar Jesus como o Salvador, a narrativa aponta para a vil condição da humanidade e a verdadeira razão da necessidade de salvação. Esse nascimento é essencialmente a ação divina em resgatar a humanidade, que rompe a nossa escuridão espiritual. O profeta Isaías antecipou esse momento, descrevendo vividamente a chegada do Salvador como uma luz para aqueles que andavam em trevas. O nascimento de Jesus é a realização dessa promessa, trazendo luz e esperança para uma terra aflita (Is 9). João 3:16 enfatiza que Deus enviou Seu Filho unigênito como expressão máxima de Seu amor. Nos versos seguintes, a missão de Jesus, é claramente anunciada, Ele não veio julgar o mundo, mas salvá-lo, proporcionando vida eterna a todos que creem. Mas embora a luz tenha vindo ao mundo, muitos preferiram permanecer nas trevas devido às suas más obras. O nascimento de Jesus também expõe a doença humana de modo inquestionável: a humanidade ama mais as trevas do pecado do que a Luz do SENHOR. Assim, a afirmação de Jesus como o Salvador não é apenas a entrega da solução ou a revelação do amor transformador de Deus, mas um diagnóstico da vil condição em que nos encontramos: precisamos desesperadamente de Salvação!

5- O anjo disse “que é Cristo” – O verso especifica uma identidade: Ao afirmar que Jesus é o Cristo, a superioridade de propósito e a singularidade dessa figura histórica é apresentada. Lucas, no capítulo 4, versículos 18 a 21, aponta isso em outros termos; presente na sinagoga, na leitura da profecia de Isaías: “O Espírito do Senhor repousa sobre Ele, ungindo-O para proclamar boas novas aos pobres, libertar os cativos, restaurar a vista aos cegos e libertar os oprimidos”, Jesus se identifica como o Messias, quando declara que naquele instante aquele trecho das Escritura se cumpriu, ou seja, para o Evangelista, tanto o bom Mestre tinha clara convicção de sua Missão, como Ele mesmo afirmou demonstrou ser o exato cumprimento das profecias messiânicas. Versos à frente, no relato do testemunho de Simeão (Lucas 2:25-33), essa identidade (escolhida, unção, Cristo) é reforçada. Na passagem, lemos que movido pelo Espírito Santo, Simeão, que esperava a consolação de Israel, foi ao Templo e reconheceu Jesus, ainda bebê, como o Cristo. Ele louva a Deus, reconhecendo que seus olhos viram a salvação preparada para todos os povos, “uma luz para os gentios e glória para Israel”. A conexão entre as profecias do Antigo Testamento e a identidade de Jesus como o Cristo não é resultado do acaso. Simeão, inspirado pelo Espírito Santo, testemunha a concretização dessa promessa divina ao segurar o menino Jesus nos braços. Ao afirmar que Jesus é o Cristo, a narrativa não apenas identifica uma pessoa específica, mas também proclama o cumprimento de profecias antigas em Jesus, a resposta divinamente planejada para as necessidade do Povo, trazendo a salvação não apenas para Israel, mas para toda a humanidade. Assim, a afirmação de que o infante nascido "que é Cristo" não apenas conta de um identificação pessoal, mas revela o perfeito do cumprimento das promessas divinas na pessoa de Jesus.

6- O anjo disse “o Senhor” – O verso especifica uma autoridade: A afirmação de que Jesus é o Senhor vai além de uma mera qualificação; ela descreve a capacidade única do ser divino que se apresentava. Filipenses 2:6-8 revela a extraordinária humildade de Cristo, que, "sendo Deus por natureza, não considerou a igualdade com Deus como algo a ser agarrado. Ele esvaziou a Si mesmo, assumiu a forma de servo e humilhou-se até a morte na cruz". Não só exercendo uma humildade sem precedentes, mas reafirmando a divindade inquestionável de Cristo antes mesmo da encarnação, ministério, morte e ressureição. O Catecismo Maior de Westminster, na resposta à pergunta 38, destaca a necessidade da divindade de Jesus no papel de Mediador. Sua divindade é “crucial para sustentar a natureza humana, garantir a eficácia de seus sofrimentos e obediência, satisfazer a justiça divina, adquirir um povo peculiar, conceder o Espírito Santo, vencer inimigos e conduzir Seu povo à salvação eterna”. A divindade de Jesus não é apenas uma qualidade abstrata, mas uma capacidade ativa de “sustentar a natureza humana e salvar a humanidade da ira de Deus e do poder da morte”. Sua divindade confere “valor e eficácia aos sofrimentos e à obediência”, proporcionando uma redenção completa e efetiva. Como Senhor, Jesus vence todos os inimigos e conduz Seu povo à salvação eterna, cumprindo assim a obra redentora de maneira triunfante. Assim, a afirmação de que Jesus é o Senhor não apenas destaca Sua natureza divina, mas também revela uma capacidade inigualável de Redenção, Salvação e Vitória. Ele é o Senhor que, em humildade e amor, exerce Sua divindade para o benefício eterno da humanidade.

CONCLUSÃO:
Embora tenham se passado mais de dois mil anos, questionar como o Natal ainda afeta você hoje é uma reflexão válida. O Natal é frequentemente reduzido a celebrações comerciais e momentos de "cooperação entre as pessoas de bom coração" que no máximo apontam a moral dos filmes típicos dessa época do ano, mas em meio a todas essas comemorações, lembre-se de que o SENHOR, Deus todo-poderoso, já providenciou tudo para que os SEUS possam viver de maneira digna de Seu Nome.

É necessário saber o verdadeiro significado do Natal: E mesmo que o nascimento de Jesus provavelmente tenha sido entre março e abril, é extremamente importante destacar, diante do 25/12, que Deus, de maneira especial, se tornou humano, de forma miraculosa, nascendo da virgem Maria para nos resgatar de nossa vil condição. É vital entender que no Natal é o início da história de Deus perdoando nossos pecados.

É necessário sentir o verdadeiro significado do Natal: Que seu coração se sinta seguro no entendimento de que o Deus-menino na manjedoura, ao crescer, escolheu voluntariamente a cruz para perdoar nossa dívida impagável e assim, que o Natal seja marcado por sentimentos de arrependimento e fé genuína em Jesus Cristo. Que a gratidão pelo sacrifício substitutivo de Jesus seja o verdadeiro sentimento “natalino”, não relativo ao nascimento dEle, mas – espero – do seu novo nascimento.

É necessário fazer mais do que se lembrar do Natal: Celebre verdadeiramente o nascimento de Cristo, o Senhor e Salvador, não apenas hoje, mas sempre. Isso é, viva constantemente lembrando-se da primeira vinda de Jesus, e mantenha em sua mente que Ele também vai voltar. Não esqueça que Ele cresceu, morreu na cruz, e agora reina em Glória. Seu berço, a cruz e túmulo estão vazios, mas Seu Trono não. Por isso mesmo, creia e obedeça!