terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Então, um feliz Natal!

A despeito de toda a tolice, futilidade, esperteza e ganância (associadas a esta data), o Natal (digo do dia 25 de dezembro, dos enfeites e da celebração, a "festa cristã" que John Lennon cantava) é uma das datas mais significativa para mim. 

Não tanto porque o sentimento de amor se espalha (ele se espalha — podemos até discutir o que é este amor), ou pelo fato de termos uma tendência a — nesta data, e por causa dela — revermos (e reforçarmos) os laços familiares, ou ainda pela nostálgica “mágica” das noites de natal (“mágica” que, graças a Deus, em minha casa nunca esteve — lá aprendemos cedo o que era o Natal, o bom e verdadeiro, o fútil e enganoso). E nem mesmo por uma tola esperança de que nesta época os corações dos homens se tornem, pelo espírito natalino (?!), mais aberto ao cristianismo verdadeiro. 

Gosto mesmo deste dia, porque mesmo errando a data, mesmo se esquecendo dO Fato, mesmo subvertendo o comemorado, a todos é novamente anunciado, ano após ano, que Ele veio! Você pode não acreditar, mas nunca poderá dizer: "eu nunca ouvi falar".

Estudar, conhecer, entender esta história é sem dúvida a tarefa principal de todos os que são filhos de Deus. Já de muito tempo, conta-la é um elo, um unificador da cristandade. Somos diferentes, mas nele somos um (Jo 11;52). O Evento Cristo é o alicerce do Cristianismo (At 4;11), é o Autor e Consumador da nossa fé (Hb 12,2), quem gera em nós o amor de que mesmo é o alvo (Fp 2;13), Alfa e Omega, o principio e o fim (Ap 22;13). Cristo é o Senhor, e se há espaço para refletirmos mesmo que em parte da História de Cristo, façamos. 

Ao ler os trechos natalinos das Escrituras Sagradas a primeira coisa que salta aos nossos olhos é o fato que Cristo nasceu. Ele partilhou dessa experiência que iguala todos os seres humanos. Foi gerado num ventre materno: nove meses, 39, 40 semanas de infortúnio — perceba, Jesus foi igualzinho você — mudança estrutural: uma célula se tornou duas, três, quatro e no quarto dia já uma massa, mais de 100 células. Cresce embrião. Na quinta semana já tem rins, fígado, sistema nervoso e coluna vertebral. Uma das partes passa a bater, o coração. O coração de Jesus na quinta semana, aquele que dirigia o coração do rei, agora tem um coração a bater. E Ele todo ainda não media 2,5 cm.

O parto é feio, violento, virulento; natural?! Sujo, desesperador... não esqueça que esse feto é o Verbo de Deus, a imagem de quem somos semelhança, a exata glória do Pai. Ele se esvaziou de sua glória, desceu, nasceu e partilhou de todas as experiências humanas, ninguém poderia dizer que Jesus foi ajudado, que foi protegido, ilegalmente beneficiado.  

Sua mãe era uma Maria desposada por um José. Uma mãe comum, uma jovem comum, que queria casar como tantas outras — comum! Noiva, nada mais, nada especial. Não era rica, e nem a mais bem sucedida. José, um trabalhador braçal... Jesus nasceu como a gente em todos os aspectos biológicos e sociais. Não houve cotas, preferencias, ajudinha ou carteirada.

Mas Jesus também foi diferente. Sim ele nasceu como a gente, mas no início da história de Jesus, os autores já dizem que era especial. Mateus e Lucas registram que embora tenha partilhado da experiência humana de ser gestacionado e parido, Jesus foi miraculosamente concebido. Maria era virgem mas estava grávida, o que nela foi gerado, era santo, do poder do Altíssimo. Lucas conta com exatidão: um anjo disse a Maria, ela seria mãe do Salvador, do Filho de Deus, Ele salvaria o seu povo de seus pecados. Ele não carregava a Maldição, o Pecado Original.  Jesus viveu sem pecado, fez tudo o que Deus-Pai mandou. Ajudou a muitos, ensinou sobre o Reino dos Céus, fez muitos milagres e morreu naquela cruz. 

Esquecemos-nos disso no Natal. Lembramos do infante que nasce, a nova vida que se anuncia, a esperança que ressurge – E isso é muito bom, foi para isso que Ele veio, é graça, favor imerecido. Mas o bebê tão aguardado (Is 9;6), o nosso Senhor e Salvador, veio para morrer na cruz. Morre por mim, para mim, no meu lugar. Essa é a História, a Velha História, que sempre convém contar.

A boa nova do Reino, informação aguarda pelos humanos já desde o casal primevo (Gn3;15), começa com um re-anúncio do nosso fracasso (Mt 1;21). Dentre outras coisas, o princípio do Evangelho de Jesus contado no primeiro capítulo do livro de Marco, uni o passado mais remoto, trazendo à memória a aguardada remissão do Pecado Original, com a revelação histórica, teatralizada em Davi e na promessa de um trono eterno, e esses enfim com a inversão do inverso, quanto no Universo adentra o Único Verso, o Verbo de Deus, o Perdão, num convite pungente de arrependimento e mudança do caminho mal.

João Batista prega este arrependimento, não para que recebam o Reino, mas por causa do pavor (santo temor) instalado em seu coração (Mt 3;7), trazido pela certeza que enfim Ele viria. A mudança da sorte, o fim do castigo, o Reino livre, a vitória tão aguardada, não esconde a desgraça forjada pelo tempo reinante no contexto. O assombro que impulsiona João no deserto, é o mesmo que atinge o profeta Isaias (Is 6), este clama por si, João clama ao povo: Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (Mt 3;8).

Nessa data especial, que é o Natal, desejo a você não apenas boas festas e um próspero ano novo. Também não quero que você só se comova com as músicas e luzes piscantes ou com as alegres comemorações. Mas que a história do Natal, a verdadeira história do Natal, a completa história do Natal, faça sentido para você; que o nascimento de Jesus, comemorado nessa época, seja para você o início do relato da salvação da sua vida. Deus rompeu a naturalidade porque amou ao mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Ele desceu a esfera humana, ocultou sua glória, tornou-se carne, para salvar o pecador. E se isso não te comove, nada mais o fará. 


Então, arrependa-se e tenha um feliz Natal!