domingo, 24 de agosto de 2014

Mea (e meia) Culpa!

Um amigo, presbítero, muito zeloso, piedoso e sábio, me chamou a atenção sobre o trecho final de um vídeo que postei no Facebook há alguns dias. Era a interpretação de Almir Sater – um dos melhores cantores, compositores e músicos desse nosso país – da música ‘Tocando em frente’ de sua autoria (seque o link). Nos 7'40" o artista diz, falando da música, considerada uma obra prima (inclusive por mim): "...acho que não tenho talento para fazer uma música, em um minuto, dois minutos assim... acho que essa foi psicografada."

Não sei se o Almir Sater é espirita ou se ele acredita em psicografia e nem se ele realmente atribui ao {suposto} fenômeno espiritual, a composição da música. Acho que a fala dele é mais uma modéstia mal direcionada. Mas na verdade não me importa. Claro que não compactuo com a fé dele, e nem desconsidero tal coisa, a relegando com crendice sem valor (há muito valor nos erros comuns; eles são mais fáceis de seduzir e nos vencer).

A fé espírita, essa que propõe a psicografia, é uma fé comum aos brasileiros, mais ainda o baixo espiritismo, que é difundido, cavalgando na superstição e sincretismo, ao povo brasileiro. Tais crenças e misturas há muito perturbam a cristandade nacional. Vemos a cada dia uma profusão de práticas, ditas evangélicas, que nada mais são de que uma versão gospel desses pensamentos.

Mas o vídeo cumpria outra função (confesso que não vi todo o vídeo antes de postar e ser alertado pelo irmão, afinal são 7'57"). Há várias séries de postagem no meu mural no Facebook. Há PIADAS REFORMADAS, PENSE NISTO EM OUTUBRO, TEOLOGIA DE UM EVANGELHO ÍNTEGRO, dentre outras. O vídeo figurava numa chamada "ISSO É ARTE!". Onde o objetivo é expor a beleza pela Beleza, e afirmar com ela (Beleza) que a Arte é bela e facilmente compreensível (no que diz de reconhecível), pois é um valor que transcende a cultura, e posta-se como algo sublime, talvez – como diria Tolken e/ou Lewis – a centelha divina (algo que alguns chamaria de Graça Comum, eu ínsito que seja o remanescente do IMAGO DEI).

Graças ao pensamento Reformado* a Arte foi libertada de suas amarras com a religião e desde então, cresce e se desenvolve numa esfera própria, e tem nessa esfera (ou deve ter) seus argumentos, força, virtudes e regras. Mas tal autonomia (ou soberania relativa) – das esferas – não a isenta de Deus e nem de sua imanência e transcendência.

Como diria Kuyper: “Não existe sequer um centímetro de nossa natureza humana do qual Cristo, que é soberano de tudo, não proclame ‘Meu!’” A arte é divina, e o que não é bom, não é arte, não é dEle. Mesmo que tolamente o artista afirme que sua arte (e naquele caso era arte mesmo) veio de um espírito iluminador do além-morte, ou que tal resultado (a peça de arte) tenha sido adquirida a partir de uma viagem transcendental ao nirvana, via chá de cogumelos ou qualquer outro psicotrópico.

Assim fala o apóstolo Paulo “que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? (1Co 10;19)” Ora, nada é dado ou recebido dessas forças, pois elas nada são; engano e falsidade, nada mais. Então o que é bom, é bom, e sem peso na consciência, pode ser recebido, porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser condenável por causa daquilo por que dou graças? Ou ainda, esquecemos de que toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança?

Mas é claro que eu não me deixarei ser controlado por nada disso. Afinal tudo me é lícito, mas algumas coisas não convêm. Sabemos que para os puros todas as coisas são puras (obviamente aquelas que não são diretamente prescritas como impuras na Bíblia; tal passagem não é uma desculpa para a licenciosidade – em si a licenciosidade ou anomia e um pecado, então algo feito nela ou por ela será pecaminoso). Mas tanto pelo bom testemunho, pela separação entre o certo e o errado, pela discrepância fisionômica ou estética do mal, quanto pelo amor ao fraco na fé, devemos tomar muito cuidado como nossas ações, palavras, comentários, e agora vídeos e curtidas.

Faço mea (e meia) culpa. Não assisti todo o vídeo, se tivesse visto a fala do artista, teria no mínimo comentado. Mas Deus transforma tudo em benção. A situação serviu para mostrar que tem irmãos zelosos dispostos a comentar sobre as atividades de um pastor (nossa igreja não é subserviente aos líderes). Há gente interessada em pureza, sem que isso se torne legalismo. Deu-me a oportunidade de refletir e escrever alguma coisa sobre o assunto. E certamente outros textos, mais completos, virão. Seja sobre a Arte como algo divino, sustentando com argumentos os post da série ‘ISSO É ARTE!’, seja falando sobre a dicotomia existente, a necessário e a errática, entre o Sacro e o Secular, ou Santo e Profano. Seja em uma pastoral sobre liberdade cristã, ou numa defesa da autonomia (ou soberania relativa) das esferas.

Um comentário:

  1. Muito bom o seu blog, estive a percorre-lo li alguma coisa, porque espero voltar mais algumas vezes,deu para perceber a sua dedicação em partilhar o seu saber.
    Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante.
    E se gostar e desejar comente.
    Que Deus vos abençõe e guarde.
    Abraço.Peregrino E Servo.
    http://peregrinoeservoantoniobatalha.blogspot.pt/

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