O Luciano, um amigo que tem sempre comentado aqui, fez uma pergunta que eu resolvi responder em forma de outro post, visto que pede uma explanação sobre uma ‘categoria’ de salmos. Assim segue uma pequena e rápida consideração sobre os Salmos Imprecatórios (por exemplo 7, 35, 58, 59, 109, 137). Como a minha idéia é apresentar análises e pastorais baseadas no livro de Salmo, comentários específicos viram mais a frente, por isso tratarei de forma genérica o assunto.
A primeira coisa que é importante ressaltarmos é que todos os Salmos (o Livro canônico, isso é os 150 salmos) são palavras inspiradas por Deus, e, é dentro desse pressuposto inegociável, que devemos pensar sobre essa 'classe' de salmos especifica. Não há dúvida que não só nos livros de Salmos, mas em diversas outras passagens bíblicas, o caráter e temperamento – e porque não dizer, as manias – dos escritores afloram. Isso é um dos muitos detalhes a demonstrar que Deus não possuiu as mentes dos escritores canônicos e mecanicamente os dominou para que então eles registrassem a Palavra de Deus.
Então, em algum sentido os salmos imprecatórios são, também, exclamações e vindicações dos servos diante de sofrimentos reais, injustiças e malignilidade. Não um murmúrio, mas um lamento – e mais – uma súplica confiante ao Senhor de tudo (veja: Ap 6; 9 a 11). Relatar sofrimento e clamar por refrigério e justiça (ou vingança) divina, através da arte, seja ela cantada, escrita ou representada, é algo mais que natural para quem tem a vida toda definida, sustentada e controlada por Deus.
Mas uma outra questão que deve dirigir nosso pensamento na leitura desses salmos é que eles falam de uma perspectiva superior. Israel é claramente o povo de Deus*, e mesmo as injustiças pessoas tinham um caráter profético. Isso é, as agressões sofridas por Israel eram afrontas primeiramente ao Deus todo poderoso, e sendo esse povo o Seu porta-voz, nada mais óbvio que ouvir deles a sentença, mesmo que em forma de cânticos.
Assim, tendo em vista as sentenças às nações, descritas em alguns livros proféticos, bem como a clara condenação ao pecador prescrita na lei mosaica e nas tradições remanescentes, não é de se estranhar a verbalização acusatória e sentencial tão direta presente nesses salmos. Afinal eles apenas relataram ou anunciam a justa sentença aos inimigos de Deus, em geral, anteriormente dada.Mas e hoje?
Temos, como igreja a liberdade, o direito, a autoridade e – porque não – a obrigação de fazer uso desses salmos (ou dessa linguagem) diante das afrontas a Deus. Entretanto devemos tomar cuidado, pois nossa posição de povo de Deus é, obviamente, diferente da vivida por Israel (antes da vida de Cristo), isso é, nós somos parte do Reino e somos agora O Israel de Deus, mas não somos uma pátria teocrática com a função de preparar e preservar o caminho para a revelação máxima de Deus como Israel do V.T. (a Igreja de outrora), assim afrontas políticas, sociais e etc. contra nós (Igreja atual) terão pesos diferentes do que as sofridas por eles (Israel, nação profética).
Como consideramos que Cristo é a verdadeira e definitiva vingança de Deus, que há de se revelar completa no tempo determinado, nossa imprecação ao ímpio, ao mal e ao maligno, será o simples anúncio de Cristo morto e ressurreto (Jo 16; 8 a 11), a vivência da sincera cristandade e o constrangimento pela verdadeira expressão do Amor em nosso dia-a-dia.
Diferentemente de se clamar para que um patrão injusto seja fulminado pela ira divina, ou pedir ao Senhor a morte de um assaltante, nós somos chamados para andarmos a segunda milha e fazer o bem aos nossos inimigos. Cristo deixa absolutamente claro que, como Igreja, nossa função é amar, perdoar e restaurar, buscando conservar o que ainda é bom e iluminar, tanto para demonstrar o caminho correto como, também, para expor as obras do inferno, conclamando a todos, sem exceção para que se arrependam e busquem a Deus que é capaz de purificar de toda a injustiça.
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* volto a insistir que leiam o artigo Israelense, Israelita, Judeu e Povo de Deus.
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