A (Nossa) Igreja do Apocalipse

Pra começo de conversa...         

As Sete Igrejas do Apocalipse. Este tema – como tantos outros relacionados ao Livro de Apocalipse de João – com certeza desperta curiosidade, essa curiosidade nem sempre é seguida de um interesse de estudá-lo profundamente, embora seja um assunto conhecido e até divulgado com freqüência nas igrejas. Em termos gerais as ‘Sete Igrejas’ ou as ‘Igrejas do Apocalipse’ são consideradas como um assunto escatológico, concernente às coisas que ainda vão acontecer, ou ainda, como tipologia de eras da Igreja. As vezes esse tema é aplicado na ‘vida espiritual’[1].

É provável que para todos nós – pelo menos uma vez – já foi feita a pergunta em tom grave, num apelo visceral de uma voz impostada: qual das SETE IGREJAS VOCÊ É!? E a resposta: Filadélfia, Esmirna, sofridas, mas sem defeito; Pérgamo, assolada pelo Diabo; talvez Éfeso operosa, porém esquecida do primeiro amor. Então uma a uma, cada Igreja é dessecada, e suas manias, defeitos, aflições e virtudes são apresentadas, contextualizadas, compreendidas; e, no balaço final, na conclusão, você soma os pontos e descobre qual das ‘Sete Igreja’ você é!

Não estou dizendo que isso está errado, porém entender que cada uma das Sete Igrejas era uma comunidade real, com pessoas reais, vivendo problemas reais muda muito a forma como lemos, interpretamos e aplicamos este ‘tema’ ou trecho na vida prática da Igreja dos nossos dias.

No capitulo 2, a partir do versículo 12 até o 17, é descrita a carta a igreja de Pérgamo – que me lembra muito a realidade da minha cidade – e por isso eu gostaria de pensar um pouco nessa passagem é fazer algumas corelações com os nossos dias. Se toda a Escritura é inspirada e boa para o ensino, a pergunta é, o que nos ensina os capítulos 2 e 3 de Apocalipse? Talvez deveríamos procurar saber mais sobre a “oitava igreja”, eu e você, nossas vidas, o que o Espírito diz hoje para nós? Responder a essa pergunta é o que de fato deve dirigir as investigações nos versículos desses capítulos. O que o Espírito diz ele diz a todos “...vede que ninguém vos enganem...”.

Vamos a das cartas... 

Ao anjo da igreja em Pérgamo escreva: Estas são as palavras daquele que tem a espada afiada de dois gumes. Sei onde você vive, onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa cidade, onde Satanás habita. No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas. Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei do maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido apenas por aquele que o recebe.

          Nestes cinco versículos ‘aquele que tem a espada afiada de dois gumes’ fala a um comunidade cristã inserida em uma das mais importantes cidades da Ásia menor. Localizada a beira mar, sobre uma elevação, que servia como proteção natural de mais ou menos trezentos metros, lançando-a ao porte de cidade fortificada. Pérgamo, que significa algo relacionado a ‘elevação’, era uma cidade famosa, possuía uma biblioteca de mais de duzentos mil tomos, que rivalizava à biblioteca de Alexandria. Num dado momento os egípcio negaram fornecimento de papiro ao povo de Pérgamo, este, então, desenvolveu um novo material de escrita com peles cuidadosamente tratadas, os chamados pergaminhos, vindo – óbvio – do nome Pérgamo.

          Havia em Pérgamo um importante e magnífico templo ao deus Esculápio, “a serpente que ensina os homens” – o símbolo da medicina moderna, é uma figura referente a este culto. A fácil relação do Esculápio com a serpente descrita em Gênesis justificaria por si só a afirmação de que o trono de Satanás ficava nessa cidade. Mas essa afirmação pode estar também ligada ao fato de que em Pérgamo, ficava o mais antigo templo de adoração ao imperador e que a deificação dos imperadores romanos naturalmente começava ali. Mas não para ai, essas práticas religiosas descendiam diretamente da Babilônia, a qual é descrita mais para frente no Livro de Apocalipse como “mãe das praticas repugnantes” daí, talvez, porque tão incisiva declaração sobre o trono de Satanás naquela cidade. A associação dessa cidade com a figura diabólica vertia-se tanto na cultura como na política e na religião. A cidade também estava mergulhada em uma profusão de práticas imorais que de uma forma ou outra atingia a vida da Igreja.

          Entretanto é a essa Igreja que, literalmente vive na casa do inimigo – ou melhor – na sala do trono de satanás, que Jesus envia a carta. Utilizando-se mais uma vez de uma figura do cotidiano dos cristãos em Pérgamo, Jesus se apresenta como o portador da espada de dois gumes. Esse tipo de espada era o símbolo do sistema judiciário de Pérgamo, o qual era responsável pela ‘justiça’ de toda aquela região. Não só Justo, mas capaz de fazer a justiça, Jesus reconhece a fidelidade em meio à adversidade e elogia a permanência no Senhor. Lembra-se de Antipas como fiel testemunha, e aqui na literalidade do significado do termo grego, mártir, a tradição conta que ele foi queimado vivo lentamente dentro de um bezerro de latão incandescente.

          Alguns defeitos são apontados, advertências amáveis são pronunciadas e no fim da carta Cristo confere a promessa de premiar os fieis ao seu nome. Não podemos nos esquecer dos que se apegavam aos ensinos de Balão e aos dos nicolaítas. Vivendo juntos aos cristãos estes dois grupos de falsos mestres e/ou falsos cristãos são comumente considerados como um único grupo de enganadores que pervertem a sã doutrina e induzem a erros os fracos na fé. Tal passagem parece sugerir que a Igreja em Pérgamo era tolerante para com tais seguidores.

          Talvez a passagem mais estranha seja a específica das promessas aos que se mantiverem fieis a Cristo. O Maná e a pedra branca são obviamente representativos, mas do que?! Algumas possíveis interpretações são, no caso do Maná escondido, a representação da comunhão com Deus, “comer do pão celestial”, um anúncio das bodas do Cordeiro (Ap 19;9); também poderia estar vinculada ao prazer não conhecido pelos homens naturais de ser aceito por Deus.

          Já acerca da pedra branca, a mais provável relação seja com algum costume. De acordo com o livro de Roy A. Anderson, “Revelações do Apocalipse” aonde sugere que: os juizes, nas cortes da época, usavam pedras brancas para declararem que alguém era inocente; que ao serem libertos alguns escravos ganhavam pedras brancas com os seus próprios nomes escritos; e que as pedras brancas eram emblemas de amizade. Outra possível idéia viria dos gladiadores que – ainda segundo o autor – ao conseguir a décima quinta vitória também ganhavam pedras brancas, simbolizando a liberdade conquistada e honra por suas vitórias. A partir disso não é complicado entender a idéia, Jesus daria a quem foi fiel, ao vencedor, àquele que perseverar até o fim, a verdadeira liberdade, a declaração de inocência do juiz verdadeiro.

...Para a oitava Igreja 
          Ao aplicar estas verdades aos nossos dias, devemos nos fixar aos contextos, na amplitude de cada idéia. Cada trecho revela um outro contexto que pode ser melhor entendido à luz de uma análise histórica e cultural[2]. O próprio livro de Apocalipse de João é feito em uma forma literária existente aos montes na época. O apóstolo João utiliza-se[3] de termos, tipos e antítipos para descrever e transcrever a palavra do próprio Senhor Jesus.

          A primeira oração da seqüência, 12 a 17 não é parte da carta propriamente dita, é mais como uma ordem de envio. Em seqüência vem as palavras que são daquele que tem a capacidade de julgar, nas palavras do próprio João, ao descrever Cristo glorificado, ele afirma que da boca de Jesus saia uma espada afiada (cap 1 vers 6) a semelhança da descrita aqui. Fácil de entender que isso é o juízo do próprio Cristo, sua palavra soberana, o poder de decidir entre proteger e atacar, justificar e proteger o justificado ou condenar e executar a condenação. Tal poder certamente é real, eterno e atuante. Não devemos pensar em nenhum momento que tal característica de Jesus mudou ou foi amenizada. Ele é amor, mas também fogo consumidor. Capaz de nos proteger, essa espada afiada volta-se contra nós quando sagazmente distorcemos as verdades bíblicas. Na verdade a própria pessoa de Jesus, o verbo, é essa espada, profunda, firme, contundente apta para discernir as intenções do coração do homem.

          Atualmente nós cristãos vivemos em uma sociedade dominada por Satanás como os cristão de Pérgamo, e aqui não me refiro aos inúmeros templos de religiões satânicas, afros ou pseudocristãs que estão espalhados por todo o território brasileiro. Refiro-me aos sibilos satânicos constantes na TV ou moda, na politicagem, no jeitinho brasileiro de conduzir tudo pelo caminho da contravenção, e mais, não podemos ignorar a ação satânica da violência, da prostituição, da corrupção ativa e passiva, das drogas e etc.

          Então peguemos nossas armas! Vamos a luta! Passeatas pela paz. Vamos eleger crentes para o congresso! Assim nós diferentemente dos ‘pérgamos’ não seremos passivos, mudaremos o mundo pela força do povo crente. Bonito e irreal[4]. Não é essa atitude que devemos ter em relação ao sacerdócio satânico nos nossos dias. Jesus espera que nós confiemos nele e ganhemos essa batalha pela interseção, pela vida cristã, e pela evangelização, devemos fazer diferença nessa sociedade e por nossa prática, dobrá-la, demonstrando que, como salvos, somos capazes de viver em santidade mesmo em um mundo corrompido e que Cristo é a melhor opção.

          Paralelamente a isso nós devemos nos posicionar firmemente contra toda sorte de falsos ensinamentos, e nisso – com certeza – se não estamos iguais aos de Pérgamo estamos piores. ‘Balãoes’ e nicolaítas pregam livremente em nossas igrejas somados a um grande número de ‘Jezabeis’, ‘Ananias e Safiras’, de judaizantes, neo-fariseus e idolatras que antes se dizem servos ou até apóstolos e profetas, mas seus atos e palavras são de filhos do diabo. Sei que alguns deles apenas estão enganados por falta de conhecimento, outros só se expressão mal e se apegam a coisas secundaria, mas parafraseando, “quem não junta, espalha”. A responsabilidade é de quem sabe o que é certo e simplesmente se cala, justificando-se melhor ser tardio no falar, ou, melhor é não se envolver em discussões sem sentido. “Pequenos desvios provocam grandes problemas”.

          Mas há virtudes, os olhos atentos de Cristo não se esquecem de ver aquilo que é elogiável. Estamos fazendo pouco mais de 2000 anos de cristianismo, e nós mudamos o mundo para melhor! Matar alguém é crime, e abandonar bebês à própria sorte é considerado crime. As mulheres e crianças têm direitos e a escravidão foi vencida. Temos um mundo mais justo e menos cruel, nossos governantes não são déspotas inconseqüentes – pelo menos não como Nero ou Calígula. As guerras e conflitos armados diminuíram e, principalmente, não são vistos como meio ordinário do avanço de uma nação.

          Isso tudo é prova da nossa (dos cristãos) influência positiva no mundo. Fizemos a diferença, estamos fazendo e continuaremos a fazer. Mas não se engane com esse meu discurso positivo, o mundo caminha para o fim, a maldade tem crescido e o desamor é sem dúvida a marca da nossa geração. Somos como geração a pior classe de pessoas que já pisaram na Terra, não obstante o nível profundo que o cristianismo está no coração e na mente de crianças. Jovens tem visões e os mais velhos sonhos, o Espírito age hoje de forma intensa e profícua... basta abrir os olhos e ver [5].

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1 - O tema – qualquer um – é destacado de seu contexto amplo e interpretado como alegoria ou é aplicado como sendo um vislumbre do plano espiritual – neste caso meramente plano metafísico.
2 - A Bíblia como obra completa é a palavra de Deus, mas ao olharmos para cada livro temos que aceitar que a Bíblia foi escrita por homens e que a cultura humana da época foi o pano de fundo de cada momento em que a Escritura Sagrada estava sendo transcrita. Leia os artigos Quae Scripturae? Divinitus inspirata est!  e Sola Scripurae? Quae Scripturae?.
3 -  Alguns acreditam que tal forma foi usada para driblar uma possível censura, mas é mais provável que tudo o que foi escrito por João da forma como foi escrito era bem entendido por seus leitores diretos e cada figura trazia em si um arcabouço de conceitos gerais os quais ampliavam ainda mais as semelhanças com as situações vividas.
4 - Leia os artigos O Reino e a Política e A Igreja.
5 - Leia os artigos O 11 de Setembro e O 11 de Setembro? - Eu, você e o mundo!