terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quae Scripturae? Divinitus inspirata est!

1 - Introdução ao Texto
          Para os cristãos, todas as argumentações são – ou deveriam ser – feitas apoiadas em um princípio: Existe um único Deus, Senhor, Criador e Mantenedor de tudo e de todos (At 17;28) que se dá a conhecer, se revelando e revelando a sua vontade (Hb 1;1 a 3). Essa revelação é a Bíblia, e é através dela (Jo 1;1 e 14) que hoje Ele comunica sua boa, perfeita e agradável vontade.

          A Bíblia não é um apanhado folclórico do oriente proximal, nem um amontoado de histórias fantásticas de cunho moralista, ou mesmo apenas um registro histórico de acontecimentos reais. Ela é a Palavra de Deus para o povo de Deus (Lc 8;21). Nela estão todas as respostas, orientações e mandamentos claros para a vida dos filhos de Deus (Mt 4;4). Se Deus é verdadeiro, e a Bíblia é a sua Palavra, nada deve ser mais importante que conhecer profundamente esse texto sagrado (Mc 12;24). Ou seja, a única pretensão de um verdadeiro servo de Deus é conhecer essa Revelação, meditar nela e obedecê-la (Dt 6;6 a 25), isso é verdadeiramente viver a fé, isso é realmente crer!

          Como crer é também pensar, deve ser – e é – possível explicar[1] a fé Bíblica[2], mas para tanto é preciso abordar questões relacionadas ao próprio texto disponível atualmente[3]. Ou seja, antes  de abordar as doutrinas, instruções, exemplos, avisos e recomendações da Bíblia, o foco deve ser a própria Bíblia: sua formação, seu caráter e singularidade, a certeza da preservação, a vida de seus ‘autores’, o contexto sócio-cultural em que foi escrita, os leitores originais e etc. afinal, ela é o pressuposto inegociável: Sola Scripturae.

2 - O Texto Revelador
          Em 2 Tm 3;16 a 17, o apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, afirma: “Toda escritura é... útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para educar na justiça”, ou seja a Bíblia serve para dar a capacidade de se tornar maduro na fé, afinal é a Bíblia que conta as coisas de Deus, ler a Bíblia é a garantia de conhecer todas as coisas que Deus tem para falar (Dt 4;1 – Pr 1;7 – Jo 7;16 – Rm 15,4). A Bíblia também e útil para a repreensão, ela serve para advertir sobre o que é certo ou errado. (1 Co 5 e 6 – Ef 5; 3 a 14 – Gl 5;19 a 21 – Ap 2;20). Da mesma forma, ela é útil para a correção, mesmo que alguém esteja vivendo de alguma forma errada, a Bíblia pode ajudar a mudar do caminho errado para o certo (1 Jo 1;5 a 2,1 – Tg 1;5). Por fim, mas não menos importante, as Sagradas Escrituras educam na justiça – fortalecendo e preparando o cristão a viver de acordo com a santidade de Deus (1Pe 1;13 a 16). E, mais, tudo isso com propósito de habilitar o eleito para viver já aqui, nessa presente era, a vida de Deus (Rm 13;11 a 14), além de comunicar a certeza do futuro em glória (Ap 21;1 a 7).

          Tangenciando toda essa aplicação prática, moral, ética – e, por que não cívica? – não destituída de espiritualidade e transcendentalismo, o valor do Vox Dei reside no impressionante fato do Eterno (Emissor) se revelar especialmente[4] através dela (Canal), e não por ter sido ditada ou mecanicamente escrita por Ele, ou porque 100% das passagens tenha sido registradas por pessoas especialmente separadas (santas e preparadas) para esse fim, ou ainda porque tais arautos sabiam que estavam produzindo (ou reproduzindo) manualmente (i.é. transcrevendo) o texto sagrado, e nem mesmo porque os manuscritos originais – as laudas divinas – estão magicamente preservados[5].

          Isso fica claro nas palavras do apóstolo Paulo. Para ele o valor pragmático – útil, descrito anteriormente – abstraído das passagens bíblicas[6], tem seu valor no fato desses conselhos serem inspirados por Deus. Ou seja, Deus é o Autor dessas palavras, Ele é o Editor do texto sagrado, assim o texto é REVELADO aos homens por Deus – ou ainda – o texto é revelador de Deus aos homens. E isso precede em importância qualquer característica associável a Bíblia. Até a santidade atribuída a Bíblia vem do Editor (DEUS) e não dos autores (escritores humanos), nem mesmo do material em si (falando com objeto religioso).

          Essa revelação primeiro foi dada, e posteriormente retransmitida, de forma oral (Hb1;1)  –  o  que  é  assombrosamente impressionante, haja  vista  que  Deus  não só  dotou  o  humano  (receptor)  da  singular capacidade  de  compreendê-lO,  como também  de  transmitir  (emissor)  esse  conhecimento  a outros (receptor).  É dessa transmissão oral (canal) que Ele gerou a transmissão escrita – sendo outra característica surpreende da ação divina em ser cognoscível e compreensível através de rabiscos, tinta e papel: signos criados por homens; ação tão magnífica quanto abrir o mar vermelho, ou seja, a rigor, a Revelação, o fato (continuo) de Deus, o Criador, se revelar (agora) nas páginas da Bíblia, é sobrenatural.

3 - O Texto Autoritário
          Deus ao colocar no cânon, o Início (Gênesis), revela-se como o poderoso Deus que escolhe, institui e preserva um povo para si, o povo de Israel[7]. No relato da própria criação, Deus estabelece, do nada, tudo o que há (Gn 1;1). Toda a criação, todas as coisas que existem, existiram ou existirão, foram planejadas e projetadas por Deus ali naquele instante[8] chamado eternidade. Todas as implicações, conseqüências, desdobramentos, foram antevistos, perscrutados, analisados, compreendido e solucionados.  Deus, antes do start do κoσμου, conheceu, predestinou, providenciou e uniu em Si mesmo, todas as coisas, acontecimentos e possibilidades, começo, meio e fim (cap. III, A Bíblia e o Futuro, Antony Hoekma, Cap. I, cânones de Dort, I Co 2;7).

          Esse Deus passa a por ordem no caos (Gn 1, Sl 74) em proporções universais. O Grande Criador revelado nos dois primeiros capítulos de Gênesis, demonstra sua organização e controle soberano, atuante e não meramente potencial. Ele criou o homem (Adão) segundo a sua imagem e semelhança e o colocou no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo, orientando-o sobre como deveria proceder ali (Gn 2, 4 a 25) expondo as conseqüências de violar essas condições.
          
          Assim temos o estabelecimento de um pacto, entre o IAHWE e Adão; entre Deus e o homem. Nessa relação contratual é descrita as cláusulas do pacto (obediência e vida; desobediência e morte) e suas observações na vida. É exatamente a cláusula desse contrato que trata das punições (desobediência e morte) que obriga o ser humano a uma vida distante de Deus, longe do paraíso, expulso da presença divina, ou seja, o Pacto vigora!

4 - O Texto Coerente

          Ao considerar o bojo do N.T. de acordo com uma eclesiologia posmoderna, poderia-se afirmar uma descontinuidade desse texto (isso é, V.T. despresado frente ao N.T.), e disso validar as mais diversas heresias[9]. Por outro lado, uma super valorização do V.T em detrimento ao N.T. nos levará a validar outro amontoado de heresias[10] [11].

          Entretanto as revelações do N.T. sobre o pacto no V.T. numa visão equilibrada apontarão não só para a manutenção proposital do Pacto da (e na) Velha Aliança – como comenta o Rev. Ronald Hanko no artigo  "O Pacto e a Lei", o qual transcrevo abaixo – mas também a clara progressão no entendimento desse Pacto.

– Segue o artigo que originalmente pode ser visto aqui:
 A característica singular do pacto com Israel foi, sem dúvida, a entrega da lei no Monte Sinai. Qual é a relação entre a lei e o pacto? Fundamental para um entendimento dessa relação é Gálatas 3:17-21. Essa passagem mostra, primeiro, que o pacto com Abraão, quatrocentos anos antes da entrega da lei, é o pacto que foi “confirmado em Cristo,” isto é, o pacto eterno de Deus; e, segundo, que a entrega da lei não poderia anular o pacto (v. 17). De fato, a lei não é nem mesmo contra o pacto (v. 21).
 Êxodo 24:7 vai mais adiante e chama a lei de “o livro do pacto,” o livro no qual Deus fez conhecido seu pacto com o seu povo. Se o pacto ao qual ela pertencia é o pacto que foi confirmado em Cristo — o mesmo pacto ao qual pertencemos — então a lei ainda é o livro do pacto, embora muita coisa tenha sido adicionada ao livro desde então. De acordo com Gálatas 3:19, essa lei escrita foi adicionada ao pacto por causa das transgressões, até que Cristo viesse. Isso significa que a lei, ao revelar o pecado, mostra a nossa necessidade de Cristo. Ela foi o “aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (v. 24) nele. Romanos 10:4 diz a mesma coisa. A passagem não diz que Cristo é o fim da lei no sentido dele abolir a lei, mas que ele é o fim da lei por ser seu objetivo e propósito. A lei foi dada com Cristo como o seu objetivo, e ela realiza seu propósito quando, ao revelar o pecado, mostra ao verdadeiro Israel sua necessidade de Cristo e da justificação pela fé nele.
 Que a lei continua a ter essa função Paulo mostra claramente em Romanos 7:7: “Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei.” Gálatas 3 também prova isso quando diz que a lei não era o aio apenas dos judeus, mas nosso também (vv. 23-24). Não temos dificuldade, portanto, em dizer que a lei era e é parte do pacto. Ela era certamente parte do pacto no Antigo Testamento, como Gálatas 3:19 nos lembra. Que isso ainda pertence ao pacto é claro a partir do fato que a mesma lei continua a ser para nós um aio (tutor) que conduz a Cristo. O que mudou foi a nossa relação para com a lei como povo do pacto, mas isso é um assunto totalmente diferente do assunto de Gálatas 4:1-7. Isso não é o mesmo que negar que existiam “rudimentos do mundo” amarrados à lei e elementos que eram puramente cerimoniais (Cl. 2:20-23). Esses cessaram, mas mesmo no Antigo Testamento eram parte do pacto de Deus por apontar para Cristo e funcionar como um “aio” para trazer Israel a Cristo. O ponto é que existe apenas um pacto, um pacto que não está em conflito com a lei, um pacto de graça em Cristo ao qual todos os verdadeiros israelitas pertencem. A lei de Deus não era, não é, e nunca será contra (paralela[12]) o pacto de Deus.

A leitura, mesmo simples, da carta aos Hebreus esclarecerá muito das ligações entre as cerimônias e rituais do V.T. na perspectivas neotestamentária. Ou seja, há uma continuação e uma complementação da antiga revelação do Pacto sem, entretanto, apresentar um rumo que não estivesse previsto nele. O correto é afirmar que tudo da revelação de Deus se encerra com o N.T. (cap. I, CFW). As revelações escriturísticas da era cristã são de fato e de direito o cumprimento do V.T. Assim não só o Pacto, estabelecido com Adão, é mantido, como, também, tem-se claramente a consumação do mesmo, ficando patente a potência e a extensão desse Pacto[13] (Rm 16:25,26, Ef 1;9,14, e 3;3,6).

          – Para ficar num exemplo "simples" de como os aspectos da Lei de Deus[14] devem ser revisto sob o prisma de Cristo [15]. Paulo afirma que a participação na sinagoga ou numa festa como a do Pentecoste (At 20;16), na­da mais era do que uma atitude de se fazer “tudo para com todos” (I Co 9;19). Para ele as festas e cerimônias tinham perdido seu valor espiritual por causa do superior oficio de Cristo, mas não eram necessariamente proibidas. Já para a igreja gentílica, até o sábado era uma parte inseparável do jugo ritualístico judaico (Gl 5;1, Cl 2;14). Por isso os primeiros irmãos consideraram “dias, meses, estações e anos” (Gl 4;10) como sendo elementos não essenciais à adoração a Deus. E por se entenderam livres em Cristo dos princípios elementares (Gl 4;9), não observavam o calendário religioso judaico.

          Essa concepção é originada dos próprios ensi­nos e práticas de Jesus, que é o único “descanso” autêntico a todos os cansados e sobrecarregados, bastando-lhes que aceitassem o seu jugo (Mt 11;28-30). Assim o domingo não deve ser considerado como sendo o Sabbath (dos judeus),  apenas como um atraso de vinte quatro horas – sob pena de incorrer no mesmo erro dos judaizantes[16] – antes porém, deve-se considerá-lo como “o novo sábado”, numa expectativa da vitória definitiva de Cristo, da qual sua ressurreição, que aconteceu no primeiro dia da semana, é um prenúncio, prenúncio do Último Dia que é verdadeiramente o descanso prometido por Deus. 

         Na progressão histórica desse pensamento, em meados do segundo século, Justino, o Mártir, tinha identifi­cado o viver cristão com o sábado perpétuo que consiste de abster-se do pecado e não do trabalho. lrineu encarava o sábado como um sím­bolo do futuro reino de Deus, no qual aqueles que serviram a Deus “num estado de descanso, participariam da mesa de Deus”. Tertulia­no declarou: “Nós não temos nada a ver com as festividades judaicas”. Orígenes disse do cristão perfeito: “Todos os seus dias são do Senhor e ele está sempre observando o dia do Senhor”.
  
5 - O Texto Atual
         A exatidão e validade desse texto têm sido demonstradas pela precisão com que descrevem todas as coisas, principalmente em se tratando do coração do homem. Inúmeras profecias foram cumpridas e tantas outras caminham inexoráveis. Entretanto a Bíblia, não é só descritiva. Ela não conta apenas os grandes feitos divinos na história de Israel (A.T.), ou os relatos da passagem de um homem bom nas terras palestinas há cerca de 2000 anos (N.T.). Ela também não foi escrita apenas como um documento do poder público – códigos civil, penal, religioso e etc. (A.T.) e nem é só o diário da igreja primitiva (N.T.).  A Bíblia é o Texto Revelado Autoritário para o séc. XXI. Sendo a Palavra de Deus (imutável), no A.T. e o N.T, também contém a Palavra (imutável) de Deus para hoje, para nós, para nossa realidade e nível de entendimento e cultura. 
         
         A Escritura é a Revelação (afirmação) divina multidimencional (1Pe 4;10). Em todas as passagens há sobreposição de informações. O Canon é como um caleidoscópio[17], a cada movimento e mudança de perspectiva, uma face diferente da Única Verdade se revela. E embora ela não esteja presa em padrões antigos (como se o pensamento de outrora fosse o que dá base para o que é bíblico, e não o contrário – em si tratando da coisa boa e santa, ou seja, o padrão era a Bíblia = Palavra de Deus) ela não precisa ser revista e nem completada e nem precisa ser “politicamente correta” ou censurada – me refiro a cristandade como agente censurador – “afinal esse livro é machista e violento, nossas crianças não precisão aprender isso”.

        Ora se o que de Deus se pode conhecer (Sl 19), naturalmente demonstra o juízo e a condenação indistintamente a todos os homens (Rm 1;20), e a Revelação especial é ainda mais terrível quanto ao anúncio distintivo da reprovação do homem (Rm 3;10) diante do padrão elevado de Deus (Lv 11;44). Outras afirmações bíblicas são igualmente válidas para a nossa sociedade global, principalmente no campo moral e ético.

          É importante relembrar que não foi a Igreja e os concílios ecumênicos que deram autoridade a Sagrada Escritura –  o que poderia dar base para uma nova contextualização bíblica sobre o auspício de que ela é fruto da Igreja Medieval – antes esses reconheceram a autoridade de tais escritos e se apoiaram no testemunho tanto interno quanto externo da autoria dos mesmos para reconhecer para si (e sobre si), a Bíblia como única regra de fé e prática – proposta recuperada pelos reformadores dos séc. XVI. Assim verdades como todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm3;23) ou não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer (Rm 3;10 a 12), são especialmente atuais.
         
6 - O Texto Apresentado
          A Lei de Deus vigora! O Pacto é para todos e sua validade é para o séc.XXI.  Jesus esclarece como deve ser a aplicação atual dessa lei e como esse pacto deveria ser encarado: Quando perguntado sobre qual era o maior mandamento, ele, afirma que a grande lei que os homens devem seguir é amar a Deus de todo o coração. Esse amor a Deus deve ser entendido como a acepção verdadeira da adoração exigida e – claro – possibilitada por Deus (Ex 20;6). Cristo afirma que essa é a Lei de Deus, o mandamento máximo divino, a razão pela qual os seres humanos existem, o propósito da criação. Amar a Deus é o objetivo que o Criador estabeleceu para o ser humano, é um decreto imutável do Senhor (item V, cap. III CFW, livro I, cap. I, IRC).
 
          O termo traduzido por amar é ἀγαπήσεις que foi utilizado na LXX para traduzir o verbo Ahavtá[18] do hebraico (cerca de 200 ocorrências). Esse termo em hebraico foi usado para descrever o sentimento de Abraão pelo seu filho Isaque (Gn 22;2), o amor de Jacó por Raquel, pelo qual trabalhou sete anos (Gn 29;18), e a amizade profunda de Jonatas e Davi (I Sm 20;17). O verbo traz a idéia do amor incondicional, altruísmo. A maior lei de Deus manda que o homem ame mais a Deus do que a si mesmo, que considere o Senhor mais importante e digno de atenção e reverência, o principal, o primeiro, a quem todas as coisas devem ser oferecidas primeiramente, em detrimento de si mesmo, a despeito inclusive de faltar para si.

          Entretanto Jesus acrescenta que esse mandamento se traduz, também, numa atitude de amor para com o próximo. Ele cita Lv 19;18, afirmando que amar ao próximo como a si mesmo é o segundo  grande mandamento, semelhante (aquilo que se parece ou é próximo de...) ao primeiro. Os mesmos termos (V.T. em hebraico e no N.T.) são usados no segundo mandamento de Jesus. A segunda maior lei de Deus é tratar o outro como a si, da mesma maneira que alguém si ama deve amar ao outro, buscar o bem do próximo com o mesmo cuidado e determinação dispensados na busca do bem para si mesmo. A idéia não é “meu direito acaba aonde começa o do outro”, forma passiva, mas “meu dever é o direito do outro”, forma ativa. E mais, essa lei tem uma importância maior. Amar (ἀγαπῶν) ao próximo é mais importante que todos os outros mandamentos, ficando diretamente abaixo de amar (ἀγαπῶν) a Deus. Não se pode – não aqui – entender essa passagem de forma simplista. Jesus não está simplesmente resumindo os 10 mandamentos em 2, como sugerida pela explicação clássica – boa e correta, porém curta – de que “amar a Deus...” é o resumo dos 4 primeiros mandamentos e “amar ao próximo...” dos 6 seguintes.

          Cristo afirma que estes dois mandamentos são os que dão base a tudo que a Lei (Torah) regulamenta, e por causa deles os Profetas trouxeram julgamento e condenação às nações (Is 1;2). O amor (ἀγαπῶν) a Deus é o principio da obediência (Jo 14;23). Entretanto, para Cristo, amar (ἀγαπῶν) ao próximo é tão diretamente entrelaçado com amar (ἀγαπῶν) a Deus que ele vê a necessidade de responder ao questionamento com afirmações sobre um segundo mandamento semelhante ao primeiro.

7 - O Texto Aplicado
Foi assim que a igreja compreendeu o Texto Revelador Autoritário Atual, mas do que especular sobre os detalhes técnicos dessas passagens, a Igreja simplesmente passou a viver com essa verdade, impondo-se o Amor e a Graça ante a frieza da aplicação legalista da Lei.

O entendimento dessa realidade está espalhado nas cartas paulinas, bem como nas cartas gerais. João coloca essa relação de amar ao próximo como sinal do amor a Deus (I Jo 2;10, 3;10, 4;7,8,20,21), Tiago afirma que uma fé em Deus sem obras é morta. Para eles amar a Deus implicava diretamente em amar aos semelhantes. Paulo passa a mostrar o mais excelente dos dons, o amor (ἀγάπην), e é evidente que esse amor, poeticamente apresentado, não é para com Deus. O amor ali apresentado é como deve ser a expressão do nosso amor (ἀγάπην) para com o próximo. O amor com que Deus nos amou é o padrão para amarmos uns aos outros. O apóstolo ainda acrescenta que todos os atos feitos sem amor (ἀγάπην) são inválidos. Ele não afirma que os atos foram ruins, ou que deveriam ser evitados. Ele afirma que um culto ou  mesmo a religiosidade destituída de amor (ἀγάπην) não tem valor nenhum por que está destituída da essência de Deus. Se os atos mais profundos de devoção não contemplarem, em amor, ao próximo, serão como um barulho, um som destituído de sentido e de beleza, que rapidamente torna-se insuportável (Ap 3;16).

O post "11 de Setembro? Eu, você e mundo!", serve de mais explanação desse ponto.


 
O resumo da obra: ou observações importantes sobre esse artigo.

a - O primeiro ponto explica a relação que o cristão deve ter com o estudo da Bíblia, ou seja, "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade"(2Tm2;15); basicamente o segundo ponto é "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo" (Hb 1;1);  o terceiro ponto é "Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra"(Mt 5;18); o quarto concorda com  o fato que " Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos," (1Co 14;33). O quinto pode ser resumido em "...todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus..." (Rm3;23); O sexto em "Tomai sobre vós o meu jugo e de mim porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. " (Mt 11;29); O sétimo basea-se em "Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos." (Ef 2;10).

b - Essas 7 observações sobre a Bíblia, não são definitivas ou exaustivas, são apenas 7 proposições minimamente necessárias para um melhor entendimento acerca da Palavra de Deus.

c - Devem ser acrescentadas a esse post as seguintes características da Bíblia: Iluminação; Exatidão; Unidade; Inerrância; Infabilida.

d - A preservação é um das características mais importantes da Bíblia e será tratada num artigo seguinte.

e - A bibliografia foi omitida por algumas razões: muitas partes desse meu texto compartilham de outros textos meus, assim multiplicando-se as referências; o artigo não terminou, pelo menos mais duas partes devem se seguir a este post – mas não se animem, vão demorar! E mais em breve postarei um artigo com a bibliografia do blog e nele serão postos todas as referencias indiretas que sempre uso.



[1]  É importante frisar que explicar a fé através dos resultados obtido nas análises da Sagrada Escritura, não é uma ação movida (em mim) por um interesse de deixar presunções religiosas e suas afirmações eventualmente flácidas e se apoiar nas “certeza” cientificas. O zelo e a honestidade para com a Verdade Relatada, se desdobra em uma demonstração da racionalidade e lógica da (minha) Fé Cristã (1 Pe 3;15): Credo ut intelligam.
  Ciência e Fé, ou fé na ciência e fé na religião são presunções ou pressuposições, com diferentes axiomas, mas igualmente válidas, uma vez que não são, necessariamente, contraditórias. Ambas se sustentam pela confiança depositada em alguma autoridade. No caso na Ciência a autoridade é dada pelo empirismo, na religião a autoridade vem de um ente superior.

[2] Isso é, fé na mensagem da Bíblia e nas verdades dela abstraídas: fé nas histórias, nos conceitos e nos valores nela contidos. É claro que essa fé, valida as eventuais informações histórico-geográfica, psicológicas, antropológicas, filosóficas, cientificas e etc., mas a Bíblia não é prioritariamente um livro técnico, por isso temos que tomar cuidado para não fazer “afirmações bíblicas” em cima de coisas que a Bíblia – necessariamente – não diz.

[3] Tanto a questão das traduções, como a questão ainda mais fundamental da critica textual.

[4] Deus ao criar todas as coisas deixou claramente muito de si nelas, por isso na natureza se distingue algumas de Suas características (Rm 1;17), ao ponto que todos, naturalmente, podem reconhecer a existência de um Criador (ou, no minimo, o fato criativo). A própria natureza chama para si essa qualidade ou missão, e ao observá-la é possível, facilmente, perceber que uma mente inteligente, uma personalidade muito poderosa, atuou na formação de todas as coisas, conferindo-lhe a beleza, funcionalidade, distinção, criatividade, dentre outras coisas. O próprio caráter distintivo do ser humano, frente ao de outros animais, é, também prova disso. Mesmo a mente de uma criança que  já é dotada da habilidade em questionar  suas origens, juntamente com o próprio fenômeno antropológico da religião, provam incontestavelmente que o universo (tudo o que há, inclusive nós mesmos) gritam “existe um Deus”. Embora ninguém possa alegar que nunca viu uma indicação da existência de Deus, essas características divinas expostas na natureza, não são suficientes para ninguém saber qual a vontade de Deus e principalmente ter o conhecimento sobre a Salvação proposta por esse Deus. 

[5] A preservação do texto sagrado será abordada posteriormente. 

[6] No texto citado acima 2Tm 3;16, “Escritura” se refere ao que hoje chamamos de A.T.

[7] Para não abrir – eventualmente – espaço para um entendimento equivocado acerca desse povo, sugiro a leitura do artigo Israelense, Israelita, Judeus e Povo de Deus.

[8] Esse instante que chamo eternidade precede a fundação do mundo. Seria o conselho da criação juntamente com o conselho da redenção que acontecem antes da criação descrita em Gênesis 1. 

[9] Em ordem crescente de desvio do certo (ortodoxia) temos: o pentecostalismo, arminianismo,
dispensacionalismo, gnosticismo cristão, a salvação universal, o liberalismo teológico e o Teísmo Aberto.

[10] Em grau muito menor (me refiro a comprometimento de alguns erros em relação a uma vida espiritualmente positiva) que a idéia contrária (ver nota 9) e com uma variação difícil de precisar no que tange ao deslocamento do certo (ortodoxia) temos (sem criterização de importância e grau de equívoco): legalismo, pentecostalismo (usos e costumes), sabatismo, adventismo, bem como os judaizantes, teonomistas, teocratas, recostrucionistas cristãos, neo-puritanos e etc.

[11] Em uma classe distinta entra a ICAR e a repetição alegórica semanal do trabalho sacerdotal (missa).

[12] Complemento entre parêntese acrescido por mim.

[13] Que é, na verdade, o plano da salvação planejado na eternidade antes da fundação do mundo.

[14] Lembre-se que a guarda do sábado é o 4º mandamento.

[15] Para sintetizar a idéia leia "O Sermão do Monte (Mt  5)", Cristo não anula ou suspende nada da Lei, ele expõe o âmago dela, para exemplificar, leia Jo 8;1 a 11 e Lc  7; 11 a 15. 


[16] A ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana (hoje chamado de domingo) não deslocou o sabbath para o dia seguinte, ocorrem diversos fatores ‘aleatórios’ - inclusive - a freqüência de alguns do “Caminho” nas sinagogas. Outro fator foi a perseguição pelos judeus e, posteriormente, pelos romanos a esse culto ‘herege’. A celebração cristã aos domingos é um fato histórico e não um mandamento.


[17] É um erro pensar que esse dispositivo mostra novas coisas, na verdade o que acontece é um interação entre a luz externa e os objetos dentro do aparelho. Não há introdução de novas peças, o que ocorre é apenas uma observação diferente causada por direfentes reflexos. Para mim uma perfeita alegoria dos processos de iluminação dadas pelo E.S. ao fiel que corajosamente se entrega a leitura da Bíblia.    

[18] Transliteração de  אהבת.

11 comentários:

  1. Olá Esli, sou o Ricardo, que pediu o MSN de cristãos reformados no blog da Norma Braga.

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  2. Gostaria de conversar com cristãos protestantes (não apenas reformados, mas de outras vertentes também, como anglicanos ou luteranos) sobre temas do cristianismo protestante, como: história da Igreja, questões atuais de moral, teologia, etc. Estudo o protestantismo e me interesso muito.

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  3. Olá Ricardo...

    Bom pro hora podemos começar com a indicação de alguns materiais de leitura. Leia os textos que eu escrevi. Eles te darão uma idéia do que pensamos. Em especial sugiro a leitura do artigo http://acruzonline.blogspot.com/2010/06/o-meu-calvinismo.html.

    Dá um entrada nos blogs que eu indico aqui.
    Poderemos trocar e-mail...

    Na paz do Senhor Jesus,

    Esli Soares

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  4. Pr Esli postei o seu estudo sobre a alma, ok? conforme vc me autorizou...
    mcapologetico.blogspot.com
    abraços

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  5. Olá Esli!

    Parabéns pelo post! Excelente!
    As palavras deste artigo devem estar gravadas no coração do crente, mas raramente vemos isto...
    É primordial, essencial...

    Em Cristo

    Rafael

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  6. Luciano,

    Que bom que vc apareceram aqui - mas ainda estou esperando um comentário sobre o texto.

    Rafeng,

    Com certeza a Bíblia e o conhecimento dela (e por ela) deve estar gravado em nossos corações...

    Na paz
    Esli Soares

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  7. Esli,

    texto "monstruoso", no bom sentido, pela extensão e profundidade poucas vezes mostrada na web, especialmente em blogs; e aborda uma questão que estamos discutindo já há algum tempo no talk.

    Bem, vamos lá!

    Primeiro, concordo que Deus é o autenticador do texto, e por isso ele é sagrado, mas também que o texto sagrado é a fala inspirada de Deus, revelando-o em verdade.

    Gostei da sua descrição sobre o Pacto, como algo estabelecido pela autoridade divina, e pela qual, o homem deveria cumprir a sua parte, caso contrário, pagaria o ônus da sua desobediência [descumprimento]. O fato de você não aventar nenhum tipo de "liberdade" para que o homem tivesse responsabilidade, me alegrou bastante. Houve um pacto, planejado e realizado por Deus. Ao homem não foi pedida concordância se era justo ou não [sendo sua origem em Deus, é claramente justo], e mesmo se aceitava o pacto ou não. Foi-lhe dado simplesmente o participar e seguir as regras. Muito interessante a sua colocação.

    Também, não há descontinuidade na Bíblia, logo, o AT e o NT se complementam harmoniosamente. Entendo que o AT deve ser lido e entendido a partir do NT, e não o contrário, porém, sem que haja qualquer discrepância entre um e outro, pois ambos são a fidedigna palavra de Deus.

    [continua]

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  8. [...]

    Muito interessante a colocação do pr. Ronald Hanko, com a qual concordo plenamente. Cristo não é o fim da lei, como se estivesse vindo aboli-la, mas a lei nos levará a Cristo, revelando-nos a necessidade que temos dele. Infelizmente, o pensamento antinominiano dos últimos séculos tem abolido a Lei como se não fizesse parte da Escritura, como se não fosse a vontade de Deus que a cumpríssemos, não para a salvação, mas como orientadora, para fugirmos do pecado, resistindo-lhe.

    Também entendo, como você, que o domingo não é um Sabbath, e de que a guarda do sábado tem um caráter muito mais profético do que legal, no sentido de nos remeter para Cristo [novamente, o aio que revelará a nossa completa dependência do Senhor], e para aquele glorioso dia, o Dia do Senhor, quando, eternamente, descansaremos nele.

    E de que, sem o amor, o mais altruísta dos homens permanece um tolo diante de Deus.

    Pensei que você fosse entrar propriamente na questão do TC, mas vi que não fez. Há uma alusão a ele quando você diz: "texto disponível atualmente", dando a idéia de que os autógrafos se foram e o que se tem foi preservado, mas ainda assim não são os autógrafos. Sabe que tenho sérios problemas com essa idéia, mas vamos deixar para mais à frente, quando provavelmente abordará a questão.

    No mais, um texto didático... poderia dizer, sem temor, um texto com rigor acadêmico, e que expoe resumida e eficazmente uma introdução à Bíblia.

    Tão bom, que quero publicá-lo no "Guerra pela Verdade". Autoriza-me?

    Abraços.

    Cristo o abençoe!

    PS: É claro que não toquei em todos os pontos abordados por você, até porque não sou louco; teria de ficar o resto da noite comentando [rsrs]

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  9. Ia me esquecendo, gostei do título também, se é que entendi [rsrs].

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  10. Jorge,

    Obrigado por comentar, muito do que escrevi aqui foi motivado pelas nossas conversas. De fato a questão do TC será abordada mais para frente; ainda temos que tratar da formação do Texto Sagrado. Inclusive isso mostra que para mim a autoridade da Bíblia ‘vem’ (é reconhecida) prioritariamente pela Fé.

    Ainda enquanto a isso, o “texto disponível na atualidade” se refere propriamente à certeza, a priori, de que a Bíblica sendo a Palavra inequívoca de Deus está inequivocamente preservada e disponível à Igreja como um todo – cabendo (só) mais a frente a exposição do (meu) modo de entender e perceber isso – ora, se o texto de alguma versão/tradução da Bíblia é o exato texto dos autógrafos, ele deve resistir a alguns testes. Mas note, a avaliação não é da Revelação (ato soberano de Deus de se tornar – em alguma medida – conhecido), ou seja, julgar se houve ou não Revelação, mas avaliar se essa versão/tradução é – e quanto é – o Texto Revelado.

    Mais uma última consideração sobre TC, é que realmente não temos os autógrafos pelo menos não até hoje – se bem que o 7Q5, um fragmento do Ev. Marcos 6;52 e 53, foi datado dos anos 50 dc – mas mesmo assim, temos pelo menos 5000 mms só do NT (de diversas épocas e com diversas características) o que torna o estudo (ecdótica) não só possível como também empolgante.

    No mais, naquele que é a Palavra.
    Esli Soares

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  11. Jorge,

    Ainda em tempo:
    1- Se a Bíblia é a verdade, então a verdade é que liberta, assim estudar a Bíblia que é a verdade, é a única forma de liberdade possível;

    2- Obrigado pelos elogios, são mútuos, e como disse: vc é um dos grandes responsáveis por esse blog, todos os elogios são extensíveis à vc (inclusive os seus);

    3- Pode usar esse texto como vc achar apropriado, nem precisa pedir (isso vale para todos os textos e para todos os leitores, é claro que respeitando a questão de indicar a fonte e a autoria), e;

    4- Sei que vc entendeu o latim do título, mas vou aproveitar para explicar: “Qual escritura? A Divinamente Inspirada”, muitos dizem q entendem disso ou daquilo, que sabe isso ou aquilo, que conhece isso ou aquilo. Bom, eu não! Tudo que sei, foi-me revelado (por livros, professores, experiência, dedução e etc.) e no caso das coisas espirituais tudo o que é necessário foi-me revelado por Deus, na Bíblia – não que eu já tenha obtido ou alcançado tudo, mas prossigo para o alvo.

    Assim em paz, subscrevo.
    Esli Soares

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