sábado, 16 de abril de 2011

O 'meu' Cristianismo - MCRA 2

Continuação do artigo O 'meu' Calvinismo - revisto, acrescentado e atualizado, parte 1
Cristão nos dicionários é o adepto da religião cristã, o que segue (ou tenta seguir) os ensinamentos de Jesus, e lhe confere o título de Cristo (iluminado, ou ungido), enfim, aquele que pratica o cristianismo. Sabe-se, entretanto, que existe um matiz intangenciável de cristianismo – eu diria surreal até – claro que qualquer doutrina (milenar) que se propõem a orientar todo o espectro da vida humana, sua relações cosmológicas, existenciais, materiais, psicológicas e etc. e arquitetar um significado para a realidade – enfim construir uma cosmovisão – é, por conseqüência[1], imensurável (ou intangenciável) seja pelo viés sociológico, psicológico, histórico, antropológico ou mesmo teológico. E somando o fato de que se trata de religião, e esse termo, por sua vez, é de uma indefinição latente[2]! – não tenho a pretensão de ser definitivo sobre essa assertiva. Assim, continuando a delinear o ‘meu’ calvinismo, volto-me a escrever sobre a sentença primária, a saber, o termo Cristão.
A definição da definição: 
Penso-me como Cristão, restringindo o viés àqueles que reconhecem tanto a divindade de Cristo como sua natureza humana. É cristão, para mim, quem (já) declara o mais antigo credo, quem crê que Jesus Cristo é Senhor (Fp 2;11). Em outras palavras, eu aceito me assemelhar como cristão aos que vêem Jesus tanto como o messias (Jo 4;24,25), chamado Cristo (Mt 16;16,17), libertador da raiz de Davi (Ap 5;5), homem descendente de Eva (Gn 3;15), quanto como Deus (Jo 10;30), a Divindade (Mt 8;26 e 27), o Sagrado (Ap 16;5), o Dono de tudo (ITm 6;15), o Todo-poderoso (Lc 5;24), IAVÉH (Ap 1;17), o Criador (Jo 1;3). Sem tal conceito não tenho como enxergar – mesmo que em uma leve percepção – algo similar entre minha fé e a de outros fieis.

Note que nada falei especificamente sobre as Escrituras, os milagres, os desdobramentos eclesiásticos, litúrgicos ou teosófico[3], os dogmas ocidentais, a história teológica e etc. Reafirmo de outro modo, estou disposta a aceitar como cristão, qualquer um que declare: Jesus Cristo é Senhor! Não importando como ele chega a essa declaração. Com isso não estou validando para a salvação qualquer tradição religiosa, e nem me fazendo ecumênico com elas, me refiro ao mínimo aceitável para a adoção da terminologia cristão, nada mais!

Quando me apego ao título Cristão, o faço de modo a me identificar com a causa de Cristo e com o desenvolvimento apostólico da tradição cristã, assim de maneira simples poderia apenas declarar a unidade cristã através do credo apostólico:

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.


Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém

"Aprovar uns é também reprovar outros":
Mesmo nessa ampla e quase irrestrita definição, ainda excluo muita gente que se conta como cristão. Não me considero como cristão em termos que englobam por exemplo, os espíritas-kardecistas: Afirmando que Jesus foi (ou é), no máximo, um espírito evoluído, mas nunca o próprio Deus; apenas uma criatura como todos os demais humanos, em um grau de evolução infinitamente maior do que qualquer outro homem já evoluído (aqui) da Terra. Coisa conquistada (isso é, lutou para conseguir essa evolução)! Jesus (o espírito dele) foi criado por Deus (nada mais que uma força-plena) num tempo infinitamente distante para nós; Cristo não ressuscitou no terceiro dia e não está vivo (no sentido corpóreo) eternamente. Ele não é a propiciação pelo Pecado e nem pode justificar ninguém. Em suma é só um (grande) exemplo de perfeição; e mais o nível da evolução de Jesus, todos estão fadados conquistar um dia.

Também não aceito me considerar cristão num pacote que caiba os Testemunhas de Jeová. Estes reconhecem (de algum modo) o sacrifício resgatador de Cristo, mas como não lhe atribuem divindade; até crêem numa pré-existência de Jesus, a quem chamam de Logos, mas não numa existência eterna; atribuem-lhe o nome Miguel, claramente o colocando como o maior dos anjos. Jesus é uma criatura – dizem – não é um mesmo com o Pai, Jesus não é Senhor (no caso, Deus). Ainda propõem uma salvação sinérgica e se fixam em boas obras ligadas a se tornar uma Testemunha de Jeová.

Um problema dessa definição:
Os mórmons são uma típica seita cristã, mantém, pelo menos verbalmente, os dogmas principais e introduzem suas peculiaridades do mesmo modo que os Adventistas, a Congregação Cristã do Brasil, a IURD (e igrejas semelhantes), a ‘Igreja Local’ dentre outras. Entretanto o mormonismo envereda por caminhos bastante tortos, embora passem pelo crivo que estou apresentado para o termo Cristão, nunca os posicionaria como cristão (em erro doutrinários) juntamente aos membros dessas outras denominações. Os mórmons se afastam tanto do modelo tradicional do cristianismo e tem tantas idéias heréticas, que realmente figuram um problema à parte nessa minha definição, de forma que eu não me considero um cristão como eles. Em suma, os mórmons estão fora do meu entendimento de Cristão, não me vejo aliados a eles em nenhuma situação eclesiástica ou religiosa. 


Alguns outros pensamentos religiosos simpáticos ao cristianismo que eu não sou obrigado a considerar como sendo próximo ou aceitáveis ao meu conceito de Cristão:

Para alguns islâmicos, Cristo seria até o (um) messias, mas este teria falhado na sua missão aqui na Terra quando foi crucificado, por isso veio Maomé, o profeta (novo messias – por aí se vê qual o real entendimento de messias para o islã). É óbvio que eles negam a divindade de Jesus e sua a morte como substitutiva pelo P(p)ecado (coisa complicada de entender na argumentação islâmica). Alguns também pensam que Jesus não morreu na cruz (tendo morrido anos mais tarde em outra circunstância comum). Ele teria apenas enganado os romanos com algum de seus poderes (encantos), desceu da cruz sem que ninguém perceber, e fugiu; outros acham que ele sequer foi crucificado mandando outro (um discípulo) em seu lugar. Há alguns que sugerem que ele foi realmente crucificação e sobreviveu, então por isso ele teria “ressuscitado”. Mas para eles com certeza ele não ressuscitou (de fato) e nem está vivo (em corpo, como homem) hoje.

Alguns Budistas o vêem como reencarnação de Buda, ou como um budista não declarado, negando sua a divindade, sua ressurreição objetiva (histórica, corpórea e eterna) e o perdão através do seu sacrifício (que pode também ter sido um farsa, um mal entendido ou o fracasso de sua vida). Já para alguns hindus, Jesus ou é um “avatar”, é uma manifestação corporal – um ente físico e palpável, mas não humano – de um ser imortal, por vezes até do Ser Supremo (que em alguma louca elação pode ser palidamente comparado ao Único Deus descrito na Bíblia). Mas a maioria prefere encarar Jesus Cristo como um “shidda” (espírito perfeito – nos moldes do espiritismo; na verdade esse último é que toma emprestado o conceito hindu de espírito prefeito). O “shidda” seria um espírito que alcançou o estágio máximo de perfeição, estágio inclusive que maioria das almas humanas (eles pensam em vários tipos de almas) continua a buscar. Nessa acepção, Jesus não chega a ser d(D)eus. Teria sido um sábio, mas de natureza apenas humana. 

No judaísmo, Jesus, quando não um blasfemo (Mc 2;7) ou charlatão (Mt 12;24), foi, no máximo um bom rabino que morreu nas mãos do império romano como tantos outros. Seus ensinamentos foram desvirtuados e o cristianismo é uma fraude histórica. Numa outra possibilidade ele era um revolucionário, um agitador, mais um lunático que se considerava o messias – coisa que ocorreu aos montes na época de Jesus – ele não é filho de Deus, não mais que qualquer outro judeu; não é (foi) o messias, e óbvio, não é um com Deus (IAWEH) – a doutrina da trindade é uma coisa que abominam. Há também, uma idéia ‘judaica’ de que Cristo seria um mestre místico, envolvido com a cabala (misticismo semita), seus ensinos na Bíblia, precisam ser decodificado, a Verdade não é ele, mas ele a conhecia.

Dessas outras religiões exotéricas, chamaísmo, filosofias místicas, e etc., marcados pelo sincretismo, a inconsistência argumentativa, a extravagância modista, a perturbação psicológica[4], ou a pseudo-ciencia (principalmente a física quântica), apenas prontamente ignoro, pois falta o mínimo de lógica e raciocínio para que sejam ao menos refutadas e então excluídas.


Parte das informações  postada aqui são minhas impressões acumuladas durante os anos, leituras diversas, entrevistas não formais (amigos, conhecidos e etc.) e pesquisas. Para saber mais procure na internet informações sobre "Jesus em outras religiões". Existem vários materiais de pesquisa e apologética que tratam melhor desses assuntos.
Reservo-me o direito de não publicar aqui os sites oficiais das seitas, religiões, ou sociedades citadas nesse post.
[1] Isso é, é maior que a capacidade de ser compreendia, uma vez que ela é que define a lente que se observa o mundo, sendo impossível voltar a lente para a própria lente.
[2] A indefinição latente do termo religião é um forte argumento contra provando a arrogante racionalidade do ateu. Ateus são religiosos sem uma divindade (no sentido de aceitar o não-provado, aceitar o apenas  especulativo; apoiar-se no mistério, bastando-lhe por uma roupagem cietifista), seus dogmas (afirmações que não aceitam discutir) são iguais os de qualquer outro ser humano, mas tais axiomas são arroubos de soberba auto-declarada, consciente e valiosa (per si), e por isso ainda mais estúpida, visto que negam a existência do divino (ou sobrenatural) pela simples incapacidade (consciente) de experimentarem essa supra-naturalidade.
[3] Sem validar tal conceito que é incoerente com a minha exposição, ainda assim, para ser amplo – ao máximo possível – no conceito cristão aceito até essa possibilidade de um teísmo aberto que impõe Cristo como Deus mesmo em nomes diversos em outras tradições religiosas.
[4] Ao que parece, coisas do tipo Jim Jones, o atirador de Realengo,  Heaven's Gate e etc...

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