sexta-feira, 24 de maio de 2024

40 dias, 40 anos:

Outra pergunta despretensiosa que me foi feita acabou por oportunizar esse pequeno artigo. Dessa vez foi um presbítero, bastante sábio, que apontando as muitas circunstâncias em que números específicos estão associados na Bíblia, perguntou sobre "a simbologia do número 40". Segue o artigo:

É fácil notar certos números na Bíblia. Seja o 3, 7, 12 ou 40. Embora devamos tomar cuidado com a numerologia e fugir obviamente das superstições associadas, não é possível desprezar essas “coincidências”. Numa rápida pesquisa, é possível se lembrar de:

1- Em Gênesis 7.12 lemos que a chuva caiu por 40 dias e 40 noites, causando o dilúvio que destruiu toda a vida na terra, exceto aquelas na arca com Noé.

2- Em Êxodo 24.18 até o cap. 31, Moisés passa 40 dias e 40 noites no Monte Sinai para receber a Lei de Deus.

3- Já em Números, em 13.25, os espiões enviados por Moisés exploraram a terra de Canaã por 40 dias. E também em 14.33, vemos o Povo peregrinando no deserto durante 40 anos antes de entrar na Terra Prometida.

4- Em 1 Reis 19.8, o profeta Elias viajou 40 dias e 40 noites até o Monte Horebe, onde teve um encontro significativo com Deus.

5- Em Jonas 3.4, o profeta fujão proclamou que Nínive seria subvertida em 40 dias, o que gera uma comoção nacional e arrependimento daquela geração

6- Em Mateus 4.2, lemos que Jesus jejuou por 40 dias e 40 noites no deserto, sendo tentado pelo diabo.

7- E em Atos 1.3, está registrado que após a Ressurreição, Jesus apareceu aos seus discípulos durante 40 dias antes de sua ascensão.

Essas ocorrências no mínimo demonstram alguma importância relacionada dessas passagens, o que pode apontar para algum valor metalinguístico. Mas mesmo aí, é mais importante os fatos e ensinos diretos do que a tentativa de compor uma “doutrina dos números”. É verdade que a tradição dá algum significado transcendente ao número 40; daí temos a Quaresma, E parece certo afirmar que a história valoriza esse número: 40 seria um período razoável de passagem do tempo, uma geração ativa; e também associar com a maturidade – um homem ou uma mulher de 40 anos é alguém que tem experiência, mas ainda tem capacidade de ação e decisão.

É possível entendermos o valor do número 40 como 10 × 4, ora, 4 representa uma totalidade: os “Quatro Cantos da Terra”, os quatro lados, as quatro faces, as “Quatro Essências”... os Quatro Evangelhos. E 10 obviamente seria superlativo, o aumento. Assim, teríamos o número 40 como um apontamento da perfeição e completude.

Na Bíblia vemos o número 40 frequentemente associado a períodos de prova e teste, renovação e recomeço, ou ainda de preparação: como nos 40 dias de chuva no dilúvio, ou os 40 anos de peregrinação no deserto. Após o dilúvio, Noé e sua família repovoaram a terra (Gênesis 8.15-19). E, é só depois de 40 anos, que o Povo entra na Terra Prometida (Josué 1). Não podemos nos esquecer que Moisés passou 40 dias no Monte Sinai recebendo a Lei ou ainda os 40 dias de tentação de Jesus no deserto que só depois inicia seu ministério público (Lucas 4.14-15).

Embora tudo isso seja significativo, não se deve pensar em um valor transcendental, algo espiritual, uma piedade intrínseca... Talvez a forma mais justa seja algo muito próximo da mera coincidência. O registro tem seu valor no que registra; a forma serve ao propósito de informar. A intenção não é tanto trazer uma verdade de “Gênesis a Apocalipse” sobre o número 40, mas apontar um momento crucial, seja 40 dias, seja 40 anos.

O fato do número 40 na Bíblia simbolizar períodos de prova, purificação e preparação, precedendo grandes transições ou recomeços, julgamento, renovação espiritual e até revelação divina, destaca a importância de tempos definidos. A melhor interpretação teológica sobre o número 40 é que a Mão Providente de Deus atua claramente no Mundo, com perfeição e completude dentro do Decreto Divino.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Natus ex Maria Virgine

Será que o apóstolo Paulo acreditava na doutrina do Nascimento Virginal de Jesus? Em seus escritos há evidências ao menos de que ele conhecia a tese? Em Romanos 1.3 não encontramos afirmações que destoam dessa doutrina? O fato dessa carta ter sido escrita antes dos relatos canônicos do nascimento de Jesus não prova que essa doutrina só mais tarde tornou-se central na religião Cristã? Será que erros na tradução do hebraico para o grego não influenciaram parte dos autores bíblicos e por isso alguns deles distintamente afirmaram essa ideia do nascimento virginal?

No interesse de responder a essas e outras dúvidas, segue essa simples investigação bíblica circunscrita à análise textual histórico-gramatical, sem a necessidade de apelo a autoridades tradicionais ou imposição confessional. Trata-se de um silogismo básico. Um mínimo de coerência, de leitura e interpretação da Palavra, que por vezes apontará traços técnicos, sem, entretanto, recorrer ao tecnicismo ou academicismo.


TRAÇANDO O ERRO:
Argumentar que o nascimento de Jesus não foi extraordinário, não é nada. Ora, ninguém nasce ‘magicamente’, todos os humanos são frutos da fertilização de óvulos, de um jeito ou de outro, por espermatozoides. Literalmente é depois da junção dos gametas de um macho e de uma fêmea que um novo ser humano se forma. Logo, qualquer um que não crê na divindade de Cristo esposa essa ideia, mesmo que inconscientemente, afinal é o modo natural. Certamente Pilatos ao permitir a crucificação e, igualmente os líderes religiosos ou a multidão que pediu por Barrabás, jamais pensaram que Jesus não fora concebido naturalmente. Mas não é isso que a Igreja afirma.

Sobra para quem, por alguma razão, não tem coragem de romper totalmente com a Fé Cristã afirmar que a ideia do nascimento virginal de Jesus é uma invenção da Igreja Medieval, mantida ainda hoje pelos ‘fundamentalistas’. Certos, por diversas fontes, que a autenticidade histórica do texto bíblico é um fato inquestionável, o esforço é concentrado em demonstrar que o Novo Testamento não traz afirmações claras sobre a Natividade miraculosa ou, que no melhor dos casos, o Texto Sagrado abriga variações e discrepâncias entre os autores canônicos sobre o tema, tornando internamente plausível esse pensamento. E assim, a tese divergente fica de pé ou cai, a partir da demonstração ao menos de uma dessas proposições.


AFIRMANDO O ÓBVIO:
Os 4 Evangelhos, claramente reconhecidos como autoridade divina já para a Igreja primitiva, concordam quanto a procedência divina do Senhor Jesus, não havendo espaço aí para um revisionismo histórico-eclesial. Evidências internas de qualquer um dos 4 Evangelhos apontam essa reivindicação de Cristo. O próprio Jesus, mais de uma vez, fala sobre a sua preexistência e se afirma um com o Pai (João 10.30; 17.5). João, o mais longevo apóstolo original de Cristo, escreve mais poeticamente sobre essa divindade latente de Jesus (João 1.1-3,14).

Mateus e Lucas, que registram de modo efetivo e inconteste o nascimento extraordinário de Jesus (Mateus 1.18-25; Lucas 1.26-38), demonstram que a história textual do Evangelho, da Igreja e desta doutrina se confundem. O próprio Credo Apostólico, que remonta ao Didaquê (sec. I), afirma que Jesus nasceu da Virgem Maria. Ou seja, não se pode separar essa ideia sob pena de falsificar toda Religião Cristã Histórica.

É verdade que os textos dos Evangelhos datam da segunda metade do primeiro século, cerca de 30 ou 40 anos depois da morte ressurreição do Nosso Senhor. Mas antes disso implicar em uma ideia tardia, tal fato na verdade reforça a autoridade dos relatos. Especialmente considerando que a maioria dos livros do Novo Testamento foram escritos com uma diferença média entre 10 e 20 anos.

Lucas, autor do 3º Evangelho, que afirma diretamente o nascimento virginal de Jesus, diz nos primeiros versos de sua obra que muitos empreenderam uma “narração coordenada dos fatos que entre {eles} se realizaram”. Ou seja, além de se afirmar como testemunha, nos informa que esses fatos estavam sendo divulgados amplamente. Assim, não é razoável pensar que afirmações tão singulares, especialmente diante de inúmeras testemunhas oculares (1João 1.1), passariam despercebidas sem que isso causasse estranhamento na comunidade cristã primitiva. Mas não há evidências desse desassossego. Na realidade essa doutrina é mais antiga que os próprios Evangelhos.

 
TESTANDO POSSIBILIDADES:
Não somente os Evangelhos canônicos afirmam a origem divina de Jesus, essa ideia permeia outros textos do Novo Testamento. Isso fica evidente em todas as 13 cartas paulinas. Em Efésios 4, por exemplo, Paulo afirma que Jesus só subiu ao Céus, porque de lá ele desceu – um apontamento claro sobre a encarnação. Já em Filipenses 2.5-11, o apóstolo diz: “pois ele (Jesus), subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana”.

Em 1Coríntios 8.6, ele diz que “há um só Deus” para em seguida atribuir a expressão de laudação tipicamente divinal “Senhor” para Jesus Cristo, e afirmar que todas as coisas são do Pai e pelo Filho. Em 2Coríntios 5.19, o apóstolo diz que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo, e em Filipenses 3.20 e 21 reafirma que “aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao CORPO da sua glória, segundo a eficácia do PODER que ele TEM”.

Já em Colossenses 1.15 confirma que Cristo é “a imagem do Deus invisível”, e ao afirmar que Ele é o “primogênito de toda a criação”, apresenta Cristo como encarnado ou materializado. Igualmente em Colossenses 2.9 reafirma que “nele (em Jesus), habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”, e sem medo de dizer que evidentemente, grande é o mistério, declama: “Aquele que foi MANIFESTO na CARNE foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória (1Timóteo 3.16)”, aludindo a toda trajetória do Filho até a Terra e de volta aos Céus.

Perceba, a origem divina de Cristo é um pressuposto claro do apóstolo Paulo, que afirma claramente a semelhança ou manifestação humana. Se ele acreditasse que Jesus era meramente um homem, ou se não sabia do nascimento virginal, por que insistir que um (mero) homem é semelhante ao homem? Que sentido faz afirmar que um homem é manifestado na carne (natureza humana)? Por que dizer que ele foi reconhecido em figura humana?

O autor de Hebreus aponta a divindade de Cristo em várias passagens (Hebreus 1.8-9; 1.10-12; 13.8). O apóstolo Pedro afirma que Jesus é Deus e Senhor em suas cartas (2Pedro 1.1,11; 2.20; 3.18). E o Livro de Apocalipse finaliza com qualquer dúvida sobre a divindade do Mestre (Apocalipse 1.17-18; 22.13), o que implica em seu nascimento (ou encarnação) diferenciado.

Todo o Novo Testamento anuncia isso claramente. E não é para menos, "Lucas, o médico amado" (Colossenses 4.14) e (Filemom 1.24), que mais tarde escreveria o 3º Evangelho, citado pelo próprio Paulo como um cooperador do seu ministério, é também o primeiro historiador da Igreja (Atos 1.1-3). Sua mensagem ressoa o próprio texto bíblico. É virtualmente impossível que a tese dele fosse desconhecida pelos outros autores do Novo Testamento.

Além de que, segundo o próprio Paulo, quando ele encontrou-se com os 12 apóstolos, incluindo Mateus, que também escreveria em seu Evangelho sobre o nascimento virginal de Jesus, e João, que afirmaria categoricamente a divindade do Bom Mestre, nada eles lhe acrescentaram (Gálatas 2.6), ou seja, “seu” Evangelho (2 Timóteo 2.8) era exatamente a mesma mensagem desses líderes, e isso naturalmente incluía o nascimento sobrenatural de Jesus.


DERRUBANDO FALÁCIAS:
No Evangelho de Mateus, lemos que “tudo isto aconteceu” – se referindo diretamente a concepção extraordinária de Jesus – “para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta” e categoricamente citando o texto do mais importante profeta para os judeus de seu tempo, o evangelista afirma que o nascimento de Jesus da Virgem Maria era o cumprimento da profecia registrada em Isaías 7.14 “Eis que a VIRGEM conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)”.

E aqui é interessante, pois em hebraico, o profeta Isaías usou o termo עַלְמָה (ʿalmâ) e na versão em grego foi traduzido para παρθένος (parthenos). Embora, haja outras palavras em hebraico para descrever uma jovem mulher virgem, apta para gerar filhos e se casar, esse conceito de pureza é inequívoco no termo em grego utilizado, que literalmente significa virgem, uma pessoa do sexo feminino que nunca teve relações sexuais.

O termo usado em hebraico é etimologicamente diferente do termo usado na tradução do grego. Não é necessário falsear essa questão. Mas palavras são mais que sua etimologia. Contexto e sentido subjacente devem ser considerados, em especial quando numa tradução. Isaías apontava a capacidade da jovem mulher gerar filhos, num momento de desolação. O simples fato dela ser ou não virgem não é abordado, o caso se dá porque isso não era o foco do autor. Aí não reside nenhuma dificuldade textual a passagem, o termo usado em grego reflete apenas o sentido mais alto e ideal do conceito hebraico.

Argumentar que a tradução de um dos mais importantes textos proféticos dos judeus, feita por especialistas, que realmente utilizavam as duas línguas – afinal, a Septuaginta, a versão grega do Velho Testamento, foi
 contemporânea ao uso natural dos manuscritos originais em hebraico – está simplesmente errada, é de uma mediocridade arrogante.

Para além disso, os tradutores da septuaginta usaram παρθένος (parthenos) também para “jovem mulher” ou simplesmente “moça”, sem apontar exclusivamente a virgindade. Veja o exemplo em Gn 34.3, o mesmo termo grego é usado para traduzir נַעֲרָה (na`arah) que só significa serva ou jovem. Além do mais, pelo contexto, sabemos que por uma violência, Diná, não é mais, tecnicamente, virgem. E mais, Gn 24,16, os 70 sábios que traduziram o Velho Testamento do Hebraico para o Grego, usam na mesma frase a expressão παρθένος (parthenos) para traduzir dois termos hebraicos distintos נַעֲרָה (na`arah) e בְּתוּלָה (beṯû·lā(h)).

Ou seja, παρθένος (parthenos), que aparece 65 vezes na Septuaginta, é usado para traduzir pelo menos 4 termos diferentes em hebraico, termos que se referem a mulheres jovens, muitas vezes virgens, mas também pode ser utilizado de forma mais geral para se referir a mulheres ainda em idade de gerar filhos.

Seria no mínimo um abuso imaginarmos que os leitores originais do Velho Testamentos fossem incapazes de entender o sentido do texto. Mateus, que era um judeu, portanto falante de hebraico e provavelmente também de grego e latim, um homem letrado, contador ou publicano, que tinha uma mente necessariamente arguta, ágil, seria capaz de observar esse “erro grosseiro de tradução” das palavras, com muito mais qualidade que qualquer estudioso atual. Ou seja, ele usou o texto consciente dessa diferença etimológica.

Ademais, a doutrina não tem sua validação textual no evangelho de Mateus apenas. Lucas registra a Anunciação em seu livro no cap. 1.28-38. Esse trecho narra que o anjo Gabriel informou Maria que ela conceberia e daria a luz ao messias, pelo poder do próprio Deus. Lucas faz questão de registrar que Maria questiona o anjo sobre isso, por ser ela virgem, ao passo que lhe é esclarecido, essa concepção se daria pelo Poder do Espírito e da Sombra do Altíssimo, e finalizando o anjo diz que o aquele filho seria um ente santo. Então, pela lógica, antes de atribuir erro de tradução seria preciso insistir que Maria mentiu.

Enfim, todas essas passagens confirmaram que os autores bíblicos, direta ou tacitamente, acreditavam no extraordinário nascimento de Jesus. E na soma das evidências até aqui impõe-se que o nascimento de Jesus era, na visão dos primeiros Cristãos, a visitação divina prometida. E assim fica estabelecido, acima de qualquer dúvida que o Texto Sagrado inquestionavelmente afirma a doutrina do Nascimento Virginal de Jesus.


DÚVIDAS RAZOÁVEIS?
Mas em Romanos 1.3, só é possível supor que Paulo esteja sugerindo uma concepção natural para Jesus numa leitura descuidada. Analisado, com o mínimo de atenção, verifica-se que o verso não é nada além de confirmação de tudo o que já foi dito até aqui.

Importa para o caso a última parte da afirmação original: σπέρματος Δαυὶδ κατὰ σάρκα (spermatos Dauid kata sarka), que pode ser traduzida legitimamente como “descendência de Davi segundo a carne”. A expressão σπέρματος significa semente e por derivação óbvia, descendência – no Grego clássico é usado deste modo. Das 45 vezes que aparece no Texto Sagrado, mais de 80% das ocorrências significam descendência; apenas 8 ocorrências efetivamente apontam para semente e em nenhuma dela se quer é possível sugerir a ideia de sêmen.

Ora, que Jesus é da linhagem do rei Davi, não há dúvidas, tanto Maria quanto José (legalmente pai de Jesus – lembre-se que no recenciamento romano isso foi promulgado) eram de descendência davídica. E isso faz parte de todo o profetismo messiânico, que Paulo, como bom Judeu, fariseu de fariseu, conhecia muito bem.

Entretanto, se a intenção dele fosse mesmo afirmar que o nascimento de Jesus era fruto de um relacionamento natural – uma atitude sem sentido – ele teria dito σπέρματος Ἰωσὴφ, semente de José (o marido de Maria). Além disso, essa nem é a forma comum, bastava dizer υἱὸν ἐν τῇ Ἰωσὴφ, (filho de José).

E mais, na própria epístola, cap. 8.3-4, lemos Paulo afirmar que Jesus, o Filho de Deus é enviado em SEMELHANÇA de carne. Ou seja, já estava clara a sua fé no nascimento extraordinário de Jesus. Pois seu interesse é firmar que Ele é semelhante a nós, embora fosse essencialmente diferente de nós por ser o Filho de Deus (Romanos 15.6). O que obviamente também desmonta a possibilidade de que ele tenha mudado posteriormente de ideia, depois da feitura dos relatos Evangélicos – Se bem que a divindade de Jesus já é apontada nas carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, os quais são textos mais antigos que o de Romanos, como demonstrado acima.


CONCLUSÃO:
Defender a possibilidade de alguém ser cristão sem necessariamente crer em traços distintivos da Fé Bíblica é uma profunda tolice. Faz parte de “ser cristão” sustentar certas afirmações que se negadas constituem um desvio tão gravoso que mais justo é ser considerado fora da cristandade. Não é mero dogmatismo, mas um apelo a lógica; afinal um triangulo não pode ter 4 lados ou um vegano não pode se alimentar de proteína animal. Isso é básico.

É assim com a ressurreição corporal e histórica ou antes com o nascimento virginal de Cristo. Afirmar que essas doutrinas são invenções posteriores da Igreja, e que tais crenças não existiam na mente dos primeiros cristãos, e, portanto, não fundamentais para a Fé, é literalmente negar a historicidade do cristianismo, sua lógica interna e suas afirmações mais caras.

A ideia de que Cristo foi apenas um homem e que seu nascimento tenha sido apenas mais um igual a todos os outros, não foi abraçada como uma possibilidade para o cristão já do primeiro século da era cristã. É só no sec. II que surgem os primeiros grupos cristãos propondo que Jesus era um ser humano comum, que fora adotado como Filho de Deus em seu batismo. Mas nem mesmo o herege Ário, que discutiu mais firmemente a plena divindade de Cristo, ainda no sec. III, ousou propor que o nascimento do Salvador tenha sido menos que extraordinário. Lembrando que essas heresias foram rechaçadas com o uso do Texto Bíblico – bastante emblemático – que a essa altura já era amplamente conhecido e tinha seu cânon finalizado.

Reedições modernas desses erros, não estão mais amparadas em silogismo bíblico, ou em melhor exegese que antes; nem mesmo ‘novas’ descobertas arqueológicas sustentam esses disparates. Tais posturas não devem ser tratadas como possibilidades, apenas “matizes de cristianismo”, mas sim como nada menos que apostasia, simplesmente. 

Há uma necessidade teológica clara aqui, a expiação de nossos pecados só é possível se nosso Mediador for simultaneamente Deus e Homem.

Graças a Deus temos um sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, que, tendo-se oferecido uma vez para sempre, tirar os pecados de muitos, aqueles que O aguardam para a salvação.


BIBLIOGRAFIA

1. Rick Brannan, org., Léxico Lexham do Novo Testamento Grego (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020);
2. Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993);
3. Kurt Aland et al., Novum Testamentum Graece, 28th Edition. (Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 2012);

segunda-feira, 1 de abril de 2024

10 rápidos conselhos para quem vai fazer uma devocional a partir de um texto bíblico:

1️⃣ Oração por Orientação Divina - Inicie com uma oração sincera, pedindo ao Espírito Santo que guie seu estudo e compreensão da Palavra de Deus.

2️⃣ Leitura em Diferentes Versões - Leia o texto bíblico em estudo em várias versões diferentes para obter uma compreensão mais ampla e clara do seu significado.

3️⃣ Contexto Imediato - Leia o contexto imediato dos versículos para entender o cenário e as circunstâncias em que foram proferidas as palavras de Jesus.

4️⃣ Anotações e Reflexões - Faça anotações sobre o texto lido, respondendo a perguntas simples sobre quem são as pessoas mencionadas, onde ocorre a passagem e a quem são dirigidas as palavras e reflita sobre o significado, implicações práticas e relevância contemporânea.

5️⃣ Observação dos Termos no Idioma Original - Observe os termos em hebraico, aramaico e grego do verso em estudo, destacando seu significado histórico e a relação das palavras usadas na tradução para a compreensão do texto hoje.

6️⃣ Leitura de Comentários Bíblicos: - Consulte diversos comentários bíblicos de autores confiáveis para obter entendimento mais profundo e detalhes adicionais sobre o texto.

7️⃣ Pesquisa na Internet - Faça uma ampla pesquisa na internet sobre o texto, incluindo pensamentos errados e heresias comuns, para ter uma compreensão mais abrangente e evitar interpretações equivocadas.

8️⃣ Desenvolvimento do Esboço Devocional - Utilize as reflexões e anotações feitas, especialmente observando o material de autores consagrados e evitando as mesmices e banalidades, erros e heresias pesquisados para desenvolver um esboço devocional, que dirigirá sua apresentação, incluindo pontos-chave, frase objetivas e aplicações práticas.

9️⃣ Finalização e Revisão - Revise o esboço devocional, assegurando-se de que está claro, conciso e centrado na Palavra de Deus; finalize o esboço com uma conclusão que reforce a mensagem principal e convide à reflexão e oração.

🔟 Oração de Encerramento - Termine sua preparação com uma oração, pedindo a Deus que abençoe aqueles que participarão da devocional e que seu Espírito Santo continue a guiar suas vidas.

quarta-feira, 27 de março de 2024

RÁPIDA REFLEXÃO SOBRE O SERMÃO EXPOSITIVO

O sermão tem sido um instrumento crucial na transmissão da Verdade Divina ao longo dos séculos no Cristianismo. No entanto, muitas vezes, na ânsia de transmitir mensagens significativas e relevantes, nos limitamos a fórmulas prontas, repetições de comentários famosos, tecnicismos frios e impessoais ou, pior, tornamos tudo um arroubo de psicologismos baratos de frases prontas e cuidadosamente pensadas para provocar arrepios e não mudanças. Por isso mesmo, é imprescindível que o sermão seja expositivo-bíblico.

PREGAÇÃO, UM IMPERATIVO:
A pregação expositiva é um expediente divinamente instruído para o ensino do Povo de Deus. Profetas, apóstolos e líderes espirituais foram comissionados por Deus para proclamar Sua Santa Palavra ao povo. Algumas passagens bíblicas, mesmo de forma simples, destacam a grande importância da prática. Em 2 Timóteo 4:2, por exemplo, o apóstolo Paulo exorta seu discípulo Timóteo a pregar a palavra, estar preparado a tempo e fora de tempo, repreender, corrigir e encorajar com toda a paciência e doutrina. Já em Romanos 10:14, Paulo questiona retoricamente: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”

UMA ANÁLISE TÉCNICA:
Um sermão expositivo vai além da superficialidade típica na mera leitura da Palavra, não só porque busca elucidar o significado mais profundo dos textos bíblicos, mas especialmente porque é ministrado em um momento público e solene, diante de uma congregação que se reuniu diante de Deus para esse propósito em obediência à Santa convocação. É verdade que esse tipo de discurso envolve uma análise cuidadosa e detalhada da perícope, levando em consideração o contexto histórico, cultural e linguístico em que foi escrito, bem como as intenções do autor e peculiaridades dos ouvintes originais.

Um exemplo notável disso encontra-se em Neemias 8:8, onde os levitas “liam distintamente no livro, na lei de Deus; e explicavam o sentido, de modo que entendessem a leitura”. Aqui, vemos a importância não apenas de ler a Palavra, mas também de explicar seu significado para que o povo possa compreender verdadeiramente o que está sendo transmitido. Por outro lado, lemos em 2 Timóteo 2:15 que Paulo instrui a Timóteo “procura apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Isso ressalta a responsabilidade do pregador em estudar e interpretar corretamente a Palavra de Deus, a fim de transmitir com precisão suas verdades aos ouvintes.

UMA PERSPECTIVA MAIS PROFUNDA:
Entretanto, é dever do expositor da Palavra apresentar questões não apenas sobre o conteúdo textual, mas também sobre o propósito subjacente por trás da mensagem que foi comunicada, em seu tempo e contexto. Detalhes históricos, exemplos laterais, exegese de terminologias específicas, antecedentes dos autores e leitores originais, são alguns “lugares comuns” que todo sermão expositivo competente deve visitar. Mas além disso, é fundamental examinar como as verdades espirituais e os ensinamentos bíblicos podem ser aplicados de forma direta à vida dos ouvintes.

O pregador precisa buscar conectar os princípios eternos da fé com os desafios e questões enfrentados pela sociedade contemporânea, e nisso oferecer orientações inspiradas para aqueles que buscam compreensão e direção. Isso também requer uma análise cuidadosa das necessidades, preocupações e experiências da congregação a quem a prédica se destina. Ou seja, ele precisa ler não apenas o Texto Sagrado corretamente, mas também a comunidade a quem vai entregar o sermão – se não fosse assim, bastaria entregar um livro de comentários da Bíblia ou, mais facilmente, indicar estudos e sermões gravados pelos doutores nas redes sociais – não podemos ignorar que a pregação é prerrogativa do pastor titular na igreja local, o que põe termo aos pregadores itinerantes e convidados especiais.

INDO MAIS PROFUNDO:
Para ajudar nessa tarefa, um exercício útil e simples para a elaboração de sermões é responder a três perguntas fundamentais: O que o autor disse? O que o autor está dizendo? O que o autor está me dizendo? Essas perguntas nos ajudam a transcender a mera transmissão de informações e nos desafiam a pensar de forma mais profunda e significativa sobre o conteúdo e a aplicação prática de nossos sermões. Ou seja, o sermão vai além de uma análise histórico-gramatical de um texto. Claro que essencialmente a pregação será expor as ideias, argumentos e afirmações que o próprio autor transmitiu originalmente. Por isso, é preciso voltar ao contexto, explorar as razões, objetivos e detalhes dos versos em questão. Mas o expositor precisa demonstrar como o Texto é aplicável atualmente, ou seja, como ele se conecta com os nossos dias, quais princípios ele aponta. É válido fazer conexões com toda teologia bíblica e sistemática, e demonstrar como eles estão presentes na nossa tradição e confessionalidade, mas não se pode prender a Palavra de Deus como solução para um contexto passado e nem à mera concatenação de verbetes clássicos.

DEUS FALA COM VOCÊ, PREGADOR:
Por tudo isso, é necessário que a exposição seja verdadeiramente um sermão bíblico com aplicação pessoal. O pregador deve ter em mente que ele é o primeiro alvo do texto em questão e, em algum sentido, a forma como o texto se relaciona com a sua vida, com as suas idiossincrasias e até com seus pecados, deve ser também o alvo do escrutínio da Palavra na preparação do sermão e de algum modo deve permear toda a exposição. Não que o personalismo deva reger a homilia, mas esse aspecto pessoal não deve ser desprezado. Deus não usa homens para transmitir sua verdade por acaso. Aqui novamente ressalta-se a importância do ministro Ordenado de uma vida moral inquestionável, não à toa, mormente, chamado de reverendo.


CONCLUSÃO:

É só depois disso então é que o resultado poderá ser organizado em uma fala toda coerente que se aproxima de uma aula, mas se expande em ares proverbiais, arraigada nas Escrituras, que seja fácil de ser compreendida, assimilada e até memorizada. Em última análise, a elaboração de sermões é uma oportunidade para comunicar verdades eternas de uma maneira que ressoe com a vida e as experiências das pessoas que nos cercam. Ao adotarmos essa abordagem analítica e reflexiva na construção de sermões expositivos, certamente seremos melhores em transmitir as orientações divinas para aqueles que buscam uma conexão mais profunda com Deus.


QUE SEJAMOS MAIS DILIGENTES SERVINDO MELHOR AQUELE QUE NOS COMISSIONOU E, NISSO, ENTREGANDO MELHORES SERMÕES PARA QUE AS VIDAS DOS QUE NOS OUVEM SEJAM IMPACTADAS PELA PALAVRA DE DEUS.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

A VERDADEIRA MARCA DA PROMESSA

Reflexão a partir do esboço do sermão exposto em 14 de janeiro na 4ª IPBV, especialmente sobre os versos 34 e 35 de João 13.

Evangelho de João 13:34-35 faz parte de um contexto maior, que se inicia no verso 1 e vai até o 38. Não apenas a atmosfera festiva da Páscoa, lembrança da libertação poderosa de Israel do jugo do Egito, mas também o revelar da traição e fracasso daquele grupo, e até mesmo as reações de descrença e o questionamento deles, caracterizam a singularidade do momento, trazendo contornos dramáticos à narrativa.

Ao retroceder até a última Páscoa, a primeira Ceia do Senhor, somos conduzidos a um encontro extremamente significativo de Jesus Cristo com Seus discípulos. Na hora da celebração pascoal, Jesus, consciente do amor do Pai, demonstra humildade ao lavar os pés de Seus discípulos, mesmo diante da iminência de Sua morte. Mesmo ali, Ele não se furta em ensinar, usando Seu exemplo na exortação aos seus discípulos, insistindo para que eles fizessem o mesmo uns pelos outros.

Já o verso 34 aponta para um novo mandamento de Jesus, que instrui Seus discípulos a se amarem mutuamente como Ele os amou. O termo "mandamento" aponta para ordens legais, preceitos morais ou instruções religiosas, devendo ser compreendido como um amálgama dos três. Esse mandamento é um conselho de amor que deve ser entendido como uma clara instrução e obedecido como uma lei.

Este amor mútuo deve ser constante e auto-sacrificial, como de fato é o de Cristo. É nisso que ele se constitui novo, pois agora o padrão de amar o próximo,  principalmente, mas não exclusivamente, os discípulos de Jesus, é a disposição de Cristo e não mais "o amor a si mesmo".

Essa atitude torna-se o distintivo do verdadeiro discípulo de Cristo. E mais, o verso 35 enfatiza que é por meio desse amor genuíno que todos reconhecerão os discípulos de Jesus. A manifestação dessa qualidade gloriosa exerce influência sobre o mundo, permitindo que as pessoas identifiquem a verdadeira conexão desses crentes com Cristo. E isso, tanto para a salvação quanto para a condenação deles. Afinal, esse autêntico amor prático é o testemunho tangível da presença de Deus em suas vidas.

Assim somos desafiados a aplicar essas verdades em nossa vida espiritual, reconhecendo que "o fruto revela a árvore". Se Deus é amor, Seus filhos devem refletir esse amor. Se estamos em Cristo, então amaremos uns aos outros assim como Ele nos amou.

Portanto, entre a tristeza pela escassez de frutos e a alegria  por não sermos árvores infrutíferas destinadas à maldição, é necessário fazer aquilo que a Palavra ordena. E por isso, agarre-se firmemente à Verdade que gera vida, ou seja, leitura bíblica regular, consistência na oração e participação ativa na vida da Igreja. Busque conhecer profundamente a Verdade com estudos diligentes da Palavra. Invista tempo e recursos no seu crescimento espiritual e teológico.

Deixe-se conhecer pela Palavra; faça autoavaliação constante e sincera de todas as áreas da vida. Aceite a "poda" com alegria, ela nos prepara para produzir mais e melhor, pois a disciplina divina é parte do plano transformador de Deus. Comemore as pequenas vitórias, mas não se contente com isso...

...continue progredindo rumo à estatura de Cristo.


Sem mais, Graça e Paz

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

MEU CORPO, SUA REGRAS, SENHOR!

Primeira carta de Paulo aos Coríntios, Capítulo 6, versos 20 - pois foram comprados por alto preço. Portanto, honrem a Deus com seu corpo.

A cada dia, cuidar do corpo, da saúde física e até da aparência através de uma boa alimentação, exercícios, hidratação, etc., tem-se tornado uma obsessão hodierna. Academias, cirurgias, suplementos, isotônicos, remédios e procedimentos se avolumam prometendo não só longevidade, mas principalmente qualidade de vida.

Mas o que tem movido você a cuidar do seu corpo? É o medo de envelhecer? A melhoria na qualidade de vida? Aumentar o condicionamento para enfrentar o 'batidão'? A busca pela beleza? Perder peso? Ganhar força? Caber naquela roupa nova? Passar na prova de aptidão física do emprego dos seus sonhos?

Nada disso é errado. Guardadas as devidas proporções, fico feliz por você, mas preciso te informar que isso não é tudo. Não basta cuidar do corpo para diminuir os efeitos do tempo e maximizar o vigor ao ápice, alcançar objetivos nobre e bons. Não é suficiente garantir qualidade de vida, especialmente quando por vida nos referimos apenas aos aspectos material, social e psicológico.

Há uma dimensão espiritual que permeia e transcende o que nós compreendemos por vida, e obviamente põe termo ao conceito de qualidade dela. A rigor, é onde se manifesta a Vida, da qual nossa natureza (corpo, mente, emoção, sentimento) pega emprestada sua essência. E aí está o x da questão: como está a qualidade espiritual da sua vida? Ou, mais comumente, como está a sua vida espiritual?

Pode parecer estranho falar de espiritualidade diante de um verso bíblico que aponta a obrigação de honrar a Deus com o corpo, mas é que nossos corpos estão ligados ao nosso espírito, de forma que um não é nada sem o outro. Ora, a boca fala o que está cheio o coração, os pés são ligeiros para caminhar no mal e os olhos miram aquilo que é o nosso desejo. É a parte imaterial do nosso ser que, de uma forma ou outra, dirige as ações feitas no e com o corpo. Então a fonte de tudo vai se resumir ao que está no interior do homem.

A verdade é que só honraremos ao SENHOR com nossos corpos, se e somente se, tivermos sido comprados pelo Sangue de Jesus. Ou seja, só é possível agradar a Deus se todo o nosso ser tiver sido resgatado para e por Ele. Isso é, nossos corpos foram resgatados, nossas mentes foram resgatadas, nossos corações, desejos e razões foram resgatados. Mas esse resgate, obviamente, significa mais que meras palavras. É por causa disso que nossas atitudes, que se manifestam através do nosso corpo, devem se alinhar com o Sacrifício de Cristo, a morte de Jesus na Cruz, o alto valor com que Ele nos resgatou.

Uma vida realmente transformada é aquela que no interior tem como base a vontade divina e, então, exteriormente, um proceder que honra a Deus, efetiva e materialmente diferente do mundano. É viver aqui em uma disposição com a de Cristo, isso é, servindo, primeiro ao Pai e, por isso mesmo, ao próximo. Com palavras, fatos e atos do verdadeiro amor. E então, verdadeiramente, você estará honrando a Deus...

...também com o seu corpo.


Sem mais, Graça e Paz.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

SEU TRABALHO É INÚTIL?

Salmo 127, verso 2 -  Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem.

A Palavra de Deus começa dizendo que Ele criou o homem, Adão, com o propósito de governar o mundo criado. No entanto, ela nos diz também que o SENHOR designou um trabalho para ele: proteger e cultivar o Jardim do Éden. Ou seja, sendo a primeira 'profissão' a de jardineiro, criada pelo próprio Deus, não se deve jamais concluir que o trabalho seja uma maldição.

Entretanto, é certo afirmar que depender do trabalho, especialmente de algum tipo difícil e extenuante, é sim um castigo divino; parte da maldição trazida pelo Pecado Original. Afinal, antes da Queda, o homem podia comer livremente de toda árvore frutífera plantada por Deus, mas depois do Pecado, seria do suor do rosto que ele teria o que comer, e com dificuldade, inclusive vinda da fraqueza da terra, que, além de tudo, produziria conjuntamente as "ervas daninhas".

Mas não é por isso que devemos inferir que é na força do nosso trabalho que estaremos seguros. Afinal, a Bíblia também aponta que, mesmo sendo extremamente diligentes em nossas tarefas, o resultado não é garantido. Muitas vezes, o trabalho correto e bom, até o mais extenuante, é verdadeiramente inútil. De fato, a Palavra afirma que situações, imprevisíveis, corriqueiramente, afetam tudo e todos, e por fim, o que era esperado não vem.

Não que a Palavra de Deus valorize o ócio ou dignifique a malandragem. Deus não valida a irresponsabilidade; não devemos tentar a Deus, quer seja pulando de um pináculo acreditando que Ele não permitirá que nos machuquemos, ou acreditando que os gastos excessivos do cartão serão "magicamente" pagos com orações feitas e versículos citados fora do contexto. Mas a verdade é que as Escrituras Sagradas são prodigiosas em harmonizar duas ideias aparentemente antagônicas: devemos trabalhar como se tudo dependesse de nós, mas ter a certeza de que tudo depende exclusivamente dEle.

Quando no verso 2, o salmista afirma que o trabalho intenso, imparável e desgastante é inútil, a razão desse diagnóstico não está na forma, quantidade ou dificuldade do trabalho, e nem mesmo no propósito ou razão dele. O problema todo gira em torno do valor do resultado. Especialmente, o valor eterno. Na verdade, todo o Salmo 127 está dizendo que o SENHOR é quem valida o trabalho que realizamos. Qualquer que seja.

Em outras palavras, Ele avalia e atribui resultado às nossas ações. Deus é quem certifica com crescimento a boa semente plantada. NOTE, isso não dispensa o semeador de semear, o construtor de edificar, ou o sentinela de vigiar. Ao contrário, a certificação divina é quem estabelece as atividades e o resultar delas.

É importante que se saiba, o SENHOR não está preso a um sistema mecanicista de causa e efeito. Ao estabelecer os fins, Ele determina os meios, como Lhe apraz. Ele levanta um e abate outro. Permite o justo sofrer aqui e farta o ímpio de bens. As coisas, simplesmente, não são como achamos que devem ser. Elas seguem o plano infalível de Deus, que em geral, nos escapa completamente.

Assim, nossa responsabilidade é trabalhar com determinação, não para suprir nossas necessidades básicas, pois desse modo agem os ímpios, mas principalmente por ser uma ordem do Criador, nosso Deus. Sem nos esquecermos, por mais virtuosos que pensemos ser, somos realmente incapazes sequer de nos prover o básico. E por isso, é necessário confiar no Pai Celeste (se é que você O tem) eternamente santo, todo-poderoso que é extremamente amoroso e graciosamente bom, que supre o que precisamos, de acordo com Sua vontade, que para os seus é sempre boa, perfeita e agradável...

...até mesmo quando dormimos.



Sem mais, Graça e Paz.