Por Charles Grimm (com alterações)
O chamado "Credo Apostólico" é uma das mais antigas declarações da fé cristã (c. de 1700 anos). O Credo resume, em 12 frases, o que os antigos cristãos professavam - e, claro, professam ainda. Conta uma lenda que cada apóstolo teria dito uma frase. Contudo, sem dúvidas o Credo é, de fato, Apostólico, uma vez que foi baseado na doutrina dos Apóstolos revelada por inspiração divina e registrada nas Escrituras.
É interessante notar que trechos em forma/estrutura de “Confissão” ou “Credo” já existiam na era apostólica. Por exemplo, em uma declaração “credal” que o Apóstolo menciona que lhe foi “entregue”:
Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. I Coríntios 15.3 e 4.
Isso seria um testemunho de que o Povo de Deus sempre confessou e sistematizou a sua fé de modo litúrgico em “fórmulas” ou “modelos” - desde a era da Antiga Aliança (cf. Deuteronômio 6.4). O texto de Filipenses 2.5-11, segundo muitos estudiosos, é uma dessas fórmulas recitadas pela Igreja:
Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.
Um exemplo que reforçaria isso é quando o Apóstolo recomenda a Timóteo que mantenha o padrão, o modelo do que lhe foi entregue:
Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. I Timóteo 1.13
Isto tudo para fundamentar que tal tradição de elaboração de credos/confissões tem origem nas próprias Escrituras. Era comum, na Igreja Antiga, que o candidato ao batismo confessasse publicamente a sua fé assim, uma vez que Credo, do latim, significa “eu creio. Assim professavam sua fé através de 12 verdades escriturísticas:
- Em Deus-Pai, Criador;
- Em Deus-Filho, Jesus o Senhor;
- No sobrenatural nascimento de Jesus Cristo;
- No sofrimento vicário;
- Na morte e a ressureição de Cristo;
- Na glorificação do Senhor;
- No juízo final;
- No Espírito Santo;
- Na santa comunhão;
- Na remissão dos pecados;
- Na ressurreição corporal;
- Na Vida Eterna.
É notável também que a divisão do Credo é trinitária: Pai, Filho e o Espírito Santo são confessados juntos.
João Calvino, seguindo a ordem desse Credo, dividiu em quatro partes As Institutas: O primeiro volume trata de Deus Pai, o segundo do Filho, o terceiro do Espírito Santo e o quarto sobre as questões da Igreja. Além disso, uma curiosidade quanto à estrutura é que, segundo alguns estudiosos, o Credo, na sua versão latina, teria exatamente 100 palavras, das quais 70 fazem referência a Cristo. Sendo exata ou não tal ocorrência, em nada diminui a evidência do que é patente em todas as versões: o Credo é cristocêntrico, isto é, aponta a Jesus, O Cristo.
Por fim, quero recomendar um uso bem prático para o Credo, especialmente no Brasil: o Credo Apostólico é um instrumento superior e mais adequado para evangelizar do que métodos empobrecidos como “As 4 Leis Espirituais” - que, além de tudo, é deficiente doutrinariamente. O Credo é algo mais conectado ao contexto católico-brasileiro e parte de “uma linguagem comum”. Já tive algumas oportunidades de explicar o Credo e apontar o Evangelho a pessoas de background romanista. É uma ferramenta muito útil para estabelecer um diálogo que leve às Escrituras e a Cristo e pode muito bem ser um ponto de partida à catequese daqueles que Deus tem atraído ao Evangelho.
Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao hades*; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.
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* essa expressão aponta apenas para a morte de Jesus. Seu corpo real, morreu realmente. É a continuação da humilhação de Cristo mesmo depois da sua morte. Consistiu em ser ele sepultado, em continuar no estado dos mortos e sob o poder da morte até ao terceiro dia; o que, aliás, tem sido exprimido nestas palavras (cf. P&R 50 CMW).
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